Economista crava: Se aparecer um candidato de Centro/Terceira Via/Síntese, vai chover de capital internacional no Brasil


O Brasil atingiu um mínimo histórico na sua participação nas carteiras de investidores internacionais. Nesse contexto, entrevistamos uma economista sobre os principais motivos desse recuo do interesse do investidor estrangeiro.

De acordo com os dados divulgados recentemente no portal UOL, hoje a fatia brasileira nos fundos globais é de 0,23%, em comparação com 1,94% no fim de 2009, no auge. Quanto aos fundos dedicados aos mercados emergentes, a porcentagem do Brasil é 5,1%, ao comparar com 16,4% em 2011.
Em vista dessa queda do investimento estrangeiro no Brasil, a Sputnik Brasil ouviu a opinião da professora de Macroeconomia do Coppead/UFRJ Margarida Gutiérrez, que elenca os fatores principais que poderiam explicar o afastamento dos investidores.
'Investidor volta só depois das eleições'

Obviamente, é uma combinação de motivos, principalmente macroeconômicos, que está por trás dessa situação, considera a professora: uma fragilidade e incerteza fiscal com relação à condução da política fiscal e um risco inflacionário, entre outros.

Mas o risco-chave que molda todos os fatores tem a ver com a incerteza das eleições no ano que vem, considera Margarida Gutiérrez.

Segundo ela, essas eleições, ao que tudo indica, vão ser polarizadas, e nessa polarização nenhuma das duas opções parece ser opção confiável em termos da disciplina macroeconômica.

"No sentido de que são pessoas ou partidos que estarão preocupados na preservação dos fundamentos da macroeconomia, ou seja, uma inflação baixa, uma trajetória da dívida pública/PIB relativamente previsível", explica.

A maior questão é como será conduzido o principal problema econômico do Brasil: o desequilíbrio fiscal da dívida pública/PIB, que é quase o dobro da maioria dos países emergentes, aponta a especialista, acrescentando que a situação se agrava pelo orçamento extremamente rígido e por uma discussão sobre gastos obrigatórios.


A economista resume que há muitos bancos inclusive dizendo que o investidor internacional volta apenas depois das eleições de 2022.


Subida de juros nos EUA joga algum papel?


Existe uma expectativa de alta nos juros nos EUA que deve drenar recursos dos países emergentes, mas, conforme a professora, tal medida se planeja para meados do ano que vem. Ainda mais, se os Estados Unidos aumentarem meio ponto percentual, isso "não faz nenhuma cosquinha", pelas suas palavras.



O real é uma das moedas mais desvalorizadas entre os países emergentes, que mais se desvalorizou durante a pandemia, explica a especialista, e todas as incertezas enumeradas acima se traduzem em um câmbio extremamente volátil. "Claro que a rentabilidade do Brasil seria muito maior se não fosse o brutal risco cambial."
Ante o processo de aprovação da PEC dos Precatórios no Brasil, vários analistas apontam a uma grande preocupação com as tentativas do governo de "furar" o teto de gastos. No entanto, a economista não concorda que seja uma violação e abandono do teto.



Para ela, esse processo em torno da proposta é "um comportamento oportunista", porque "o jogo já começou, está sendo jogado e estão sendo mudadas as regras, que é mudança do período do ano calendário, do período que vai ser usado para limitar o teto de gasto".
Agora o Brasil tem um problema gravíssimo que as pessoas também não falam: todo o mundo está a favor de transferir renda a 13 milhões dos que estão desempregados, que estão absolutamente sem nada hoje. Mas ninguém consegue enxergar como isso pode ser encaixado dentro do orçamento. "A equação não fecha", diz ela.


"Se não pode encaixar R$ 90 bilhões no orçamento, assim acho que dá para encaixar. Então você regulamenta o pagamento de precatórios – não acho que seja um calote, é uma regulamentação", opinou.



Poderá aumento na taxa de juros atrair investimento em carteira?
Conforme explica a economista, a taxa de juros e o câmbio têm uma relação importante: sobe o juro e o câmbio em princípio cai, levando ao movimento de atração de capital internacional.



O problema é que, apesar de que o Brasil tem atualmente um fluxo de câmbio positivo, este continua subindo por outros riscos, como a inflação, a fragilidade fiscal e, além disso tudo, a incerteza das eleições, "um fator que nós não podemos deixar de lado".


Na opinião da professora, no fundo do investimento existe essa perspectiva de entrar de um determinado candidato que pode adorar os controles de capital. "Isso é a coisa mais importante hoje no Brasil que mais afasta o investidor internacional."


Margarida Gutiérrez não duvida que se aparecer uma terceira via, um candidato mais de centro, "vai chover capital internacional no Brasil", mas hoje tal figura ainda não existe.
Apesar de tudo, o governo brasileiro conduz muito bem em termos de macroeconomia
Embora o Brasil tenha gastado muito na pandemia, o país sai muito bem, com queda do PIB entre as menores do mundo, 4,1% do PIB. O Brasil registrou uma queda muito menor que a zona do euro, que o Reino Unido e a Alemanha, por exemplo.


E isso se deve à ousadia da política fiscal de Guedes, um ministro da Economia "muito responsável do ponto de vista fiscal", nas palavras da economista.

O auxílio emergencial foi muito importante para manter vidas e empregos. Além disso, foram gastos R$ 800 bilhões em política fiscal para assegurar emprego, vida, renda.


"Com isso, a nossa dívida pública cresceu muito, mas já em 2021 a gente vai chegar a um nível de gasto que é menor que no pré-pandemia."


Porém, o mercado de trabalho mudou muito na pandemia, aponta a especialista: está em demanda uma mão de obra qualificada, uma vez que uma série de atividades foram eliminadas definitivamente com a pandemia.


Então, o mercado brasileiro está operando a duas velocidades: a mão de obra mais especializada – o cientista de dados, o engenheiro, o especializado em tecnologia de informação – encontra emprego facílimo. Ao contrário, aqueles que são os vulneráveis e de baixa qualificação, que durante a pandemia piorou ainda mais, não conseguem se empregar.

Sendo eleitorado, essas 13,5 milhões de pessoas brasileiras têm que ser atendidas, avisa a economista.

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