Episódio da série Black Mirror, mostra um futuro de pessoas obcecadas por troca de likes, e o avanço da Inteligência Artificial


O primeiro Episódio da Terceira temporada da Série Black Mirror, de muito sucesso na netflix, intitulada de NOSEDIVE - Queda na tradução livre. Mostra um mundo ainda mais conectado, e pessoas obcecadas ainda mais pela tecnologia, e pela troca de likes, curtidas uns com os outros. Cada pessoa nesse novo mundo possui um status de pontos, onde muito lutam para obter as melhores pontuações, para poderem frequentar os melhores lugar, ou até viajar para um destino melhor. Quando a protagonista do episódio Lacie (Bryce Dallas Howard) percebe que este novo mundo não é tão bom assim, ela vê que tudo agora é artificial, nada é mais como um dia foi antes. E percebe que chegou à sua queda, no novo mundo de troca de likes, por status e frequentar novos lugares com esses pontos. Lacie vê que a vida já fez sentido antes, quando tudo era mais normal. 



Esse primeiro episódio da terceira temporada da série Black Mirror imagina que a uberização que se vê nas novas empresas estará fortemente presente nas relações pessoais.
E que vamos passar o tempo todo esmolando estrelinhas para poder trabalhar. Diria que preocupados com estrelinhas no trabalho, sim. Dos amigos, não.
Há duas discussões a partir disso.
  • A filosófica – que nos remete a como pensamos sobre a relação do humano com tecnologias
  • O prognóstico do cenário (que é resultado da visão filosófica) – onde afinal a uberização pode nos levar?
Na minha certeza provisória atual acredito que o ser humano, como qualquer outra espécie viva, antes de qualquer coisa, é motivado primeiro pela sobrevivência e depois, com ela garantida, se dá ao luxo do que vem depois.
Se queremos colocar um fio terra no debate dos cenaristas sobre o novo milênio precisamos recorrer sempre à história.
Não podemos esquecer, e isso é demonstrado pela história, que o que move cada pessoa no mundo é chegar ao final do dia vivo. Para isso é precisa comer, beber, trabalhar e conseguir evitar os riscos de morrer antes de dormir.

Sobreviver

Isso vem das cavernas e continua e continuará presente na vida de cada um de forma mais ou menos latente, conforme cada contexto. De cenários mais adversos em guerras, terremotos e grandes catástrofes ao cotidiano.
Na minha certeza provisória, diria que tudo que fazemos, todas as ferramentas que criamos e usamos, inventamos, massificamos ontem, hoje e amanhã vêm atender a essa demanda principal: sobreviver.


Obviamente que superados determinados parâmetros de sobrevivência, o ser humano começa a se dar ao luxo de ter vícios, prazeres, gostos e iniciamos um conjunto de demandas em torno disso.
Assim, há uma espécie de “natureza dos seres vivos” – não digo só humana – em que o instinto de sobrevivência em todas as espécies sempre estará presente em alguma medida, conforme a situação limite.
A única mudança radical que alteraria o Sapiens nessa máxima, e isso é possível, seriam mudanças genéticas, com o domínio dos códigos genéticos, se criarmos uma nova espécie de laboratório que não precise mais comer ou beber.
Aí teríamos nova espécie com outros paradigmas, abandonando a lógica dos seres vivos.

O que diz a história

Enquanto isso não ocorre, a história nos mostra que as tecnologias abriram fronteiras para o ser humano ocupar, com a sua natureza.
E o papel do cenarista é analisar como essa natureza humana – digamos meio líquida, mas dentro de um corpo sólido, vai se adaptar às novas condições de cada época.

            A IA(Inteligência Artificial em ação, pela íris do olho da Lacie)
(Muita gente vai dizer que não existe natureza humana. É talvez o primeiro equívoco de muitos cenaristas utópicos.)
Podemos dizer que essa natureza humana não é fixa, é mutante, pois uma coisa é um humano mais próximo à natureza, em uma fazenda, e outro um que vive numa megalópole.
Procurar constantemente a natureza humana no tempo e projetar adaptações dela para o futuro, mesmo com descobertas de novas facetas, é a atividade principal de um cenarista eficaz.
Assim, para imaginar que a espécie vai criar demandas novas a partir de novas tecnologias precisaria comprovar algo parecido na história. Ou imaginar que havia algo tão oculto que agora há condições de vir à tona.
E isso tem que ter algum tipo de discurso lógico e não apenas achismo emocional de um cenarista utópico. Até porque não é primeira vez que alteramos mídias no passado. E podemos analisar que muita coisa mudou. Mas muita coisa TAMBÉM não mudou.

Preciso de likes

Dito isso, passemos ao que sugere o autor do primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror.


De fato, o aumento demográfico radical dos últimos 200 anos (de 1 para 7 bilhões) tem nos obrigado para sobreviver melhor a criar estrelas para avaliar produtos, serviços, pessoas, textos, vídeos, áudios.
Estamos adotando a comunicação química das formigas, criando um novo modelo administrativo da Curadoria para lidar com problemas complexos, sem solução no atual modelo administrativo da Gestão – filha direta da palavra oral e escrita, que nos acompanha há 70 mil anos.
A uberização significa a passagem do controle administrativo de um gestor do alto para um consumidor, munido de aplicativo, que viabiliza a expansão dos cliques – a terceira linguagem humana.
O prestador de serviços na uberização passa a ter receio do consumidor, que pode, através dos cliques, que são gerenciados por uma inteligência artificial, tirá-lo da plataforma ou reduzir o ganho no final do mês, como já ocorre em diversos projetos novos na internet e até na variável do final do mês das tripulações da Gol.

Avaliações de serviços

Isso, entretanto, não é novidade para a espécie. Avaliações de prestação de serviços sempre ocorreram no tempo e na história. Porém quem avaliava cada prestador era um gestor, que fazia a sua avaliação e tomava as mesmas decisões de demissão, promoção, contratação de forma vertical.


O aumento do patamar de complexidade demográfica, entretanto, tornou o trabalho do antigo gestor obsoleto.
A avaliação do consumidor permite a descentralização da avaliação de baixo para cima, de forma horizontal, com mais meritocracia. É a pulverização do gestor em milhões de microgestores.
A uberização é uma saída sistêmica para o aumento da complexidade. Taxistas não eram mais controlados pelo consumidor, que reclamava em vão. O motorista do Uber é controlado pela dobradinha consumidor – inteligência artificial, dentro de uma plataforma administrada por um curador.
Motoristas do Uber temem a avaliação dos passageiros e por isso se comportam muito melhor.
O critério de estrelas também se dá para canais de vídeos, áudios, textos e aqui estamos falando de espaços de divulgação de ideias, que podem ser ou não comerciais (no sentido de geração de receita).
A taxa de ética social tende a aumentar na transparência e com o controle da sociedade sobre as organizações e seus parceiros, colaboradores.
Assim, avaliar serviços e produtos não é algo novo; o que estamos fazendo com a uberização é democratizar a forma de avaliação.
Imaginar que esse sistema de avaliação já existente nas organizações migraria para as relações pessoais é algo a-histórico.
Por que aconteceria agora? Avaliar já ocorre por uma necessidade de ser melhor atendido, por que passaríamos a fazer isso nas relações pessoais?
Só porque podemos?
Já podíamos fazer isso com a fofoca, mas a fofoca sobre alguém não impede que pessoas sejam amigas ou que sejam impedidas de trabalhar em determinado lugar.
O que faz a diferença na hora do trabalho não é com quem você se deita, ou de quem é amigo, mas a capacidade que se tem de gerar valor para quem tem um determinado problema.
Não vejo nada na história que possa demonstrar algo assim. Fornecedores e consumidores, uberizadas ou não, querem pessoas que consigam gerar valor, independente do que fazem, com quem se encontram, de quem são amigos.
O que valeu para o passado e será para o futuro é capacidade que cada um tem de identificar problemas e ajudar a superá-los. É isso que vai sempre ser objeto de avaliações cada vez mais sofisticadas, que serão feitas com as ferramentas cognitivas disponíveis (canal físico e linguagem).
Vejamos.
Pouco importa, por exemplo, se um vendedor de baterias no Mercado Livre tenha amigos no Facebook; se entrega o produto em dia todo mundo o elogia. Importa? O mesmo digo de um motorista do Uber ou de alguém que aluga quartos do AirBnb.
Pessoas fazem negócios com outras por motivos mais objetivos e se relacionam com outras por motivos mais subjetivos.
Tais relações passam por diversos critérios de seleção de quem você quer ver todo dia, de vez em quando ou nunca, tanto nos negócios quanto na sua vida pessoal.
Nos negócios o que importa mais é a objetividade e na vida pessoal a subjetividade. São critérios diferentes para demandas diferentes.
Acredito que determinadas práticas sociais já são mais transparentes e vão evitar relacionamentos pessoais futuros. Mas isso não vaza para os negócios, pois a ideia de empresas centralizadas, de recursos humanos centrais que contratam, é algo que não se sustenta num cenário futuro.
O Enredo do Episódio

Lacie Pound (Bryce Dallas Howard) vive em um mundo onde as pessoas podem avaliar popularidades com cinco estrelas. Lacie, que é obcecada por ser bem recebida, começa o episódio com um índice de aprovação em torno de 4.2. Ela mora com seu irmão Ryan (James Norton), que tem um índice de aprovação inferior e não se preocupa com isso. Seu arrendamento está expirando, e Lacie está ansiosa para se mudar para o "luxuoso" Pelican Cove, contra o conselho de seu irmão. A fim ser capaz de ter recursos para viver lá, deve pagar uma renda exorbitante ou ganhar um desconto caso ela possua uma avaliação de 4.5 ou acima.
Naomi (Alice Eve), a amiga de infância de Lacie, pede a ela para ser sua dama de honra em seu casamento. Naomi tem uma classificação de 4.8 e muitos amigos seus que possuem uma "classificação alta" vivem em uma ilha particular. Lacie acredita que se ela entregar um discurso de honra perfeito, sua classificação será elevada até os 4.5 ela precisa. Ela vai para um aeroporto para viajar para o casamento, mas seu voo original é cancelado. Devido a uma discussão com Ryan sobre Pelican Cove e vários encontros infelizes com estranhos aleatórios, sua classificação caiu abaixo de 4.2, ela também acaba tendo um assento recusado em outro voo devido a sua pontuação. Lacie causa uma cena de frustração no aeroporto, e a segurança lhe dá uma punição de 24 horas que temporariamente baixa sua classificação para 3.1 e todos os votos negativos que ela recebe são duplamente multiplicados.
Tendo seu ranking bem mais baixo agora, Lacie só tem a opção de alugar um modelo de carro antigo para dirigir o percurso de nove horas até o casamento de Naomi. Quando seu carro elétrico fica descarregado, ela não pode carregá-lo novamente pois o carro é tão velho que seu adaptador não é mais carregado na estação de carregamento. Lacie tenta pedir carona, mas os motoristas que passam se recusam a parar por causa de sua baixa classificação, e alguns também a negativam sem motivo. Eventualmente, ela consegue uma carona de uma motorista de caminhão, Susan (Cherry Jones), que revela que ela também estava obcecada com classificações até que seu marido não recebeu um tratamento de câncer vital porque ele era um 4.3 ao invés de um 4.4.
Naomi liga para Lacie e diz que ela não é mais bem-vinda no casamento devido à sua classificação, que caiu para 2,6. Enfurecida, Lacie persiste e decide ir de qualquer maneira e se infiltra na ilha, já que sua classificação é muito baixa para entrar oficialmente, e bloqueia a recepção de casamento. Lacie prontamente executa seu discurso e de repente ameaça o novo marido de Naomi, Paul (Alan Ritchson), com uma faca quando ele tenta pegar o microfone. Lacie é presa e tem a tecnologia para ser classificada confiscada. Enquanto está em sua cela de prisão, Lacie começa a trocar insultos com um prisioneiro (Sope Dirisu), e sua raiva mútua se transforma em deleite mútuo à medida que cada um percebe que agora está livre para falar o que quiser sem medo.

Veja o episódio completo: 
Black Mirror - Queda Livre - T3-E1 from Flatech TI on Vimeo.

Estamos ou não caminhando para isso ? 

O ser humano cada vez mais longe do Criador, é isto que a Inteligência Artificial irá fazer futuramente. 

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