À La Confisco de Collor: Lula propõe criação de moeda comum e uso do BNDES a presidentes sul-americanos

Em reunião com representantes de 12 países, o presidente brasileiro defendeu a moeda comum em negociações comerciais e o uso de bancos de desenvolvimento para integração


Lula propôs a presidentes de outros 10 países da América Latina, nesta terça-feira (30), a criação de uma moeda comum para ser utilizada em negociações da região como alternativa para reduzir a dependência de moedas extrarregionais, como o dólar. A intenção é aprofundar a identidade sul-americana na área monetária. 


Além disso, está no radar do mandatário disponibilizar a poupança regional dos países do grupo para ações de desenvolvimento econômico e social. A medida seria feita por meio de bancos de desenvolvimento. No Brasil, seria utilizado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


As iniciativas foram propostas para debate junto à criação de um grupo pelo prazo de 120 dias, com representantes pessoais indicados pelos presidentes presentes na reunião. Ao todo, Lula apresentou dez pontos que considera essenciais para discussão. São eles:


Colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento como a CAF, o Fonplata, o Banco do Sul e o BNDES;

Aprofundar a identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismo de compensação mais eficientes e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais;

Implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens;

Ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência;

Atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), reforçando a multimodalidade e priorizando os de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira;

Desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima;

Reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, que permitirá adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer o complexo industrial da saúde e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas;

Lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia, que assegure o suprimento, a eficiência do uso dos recursos, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental;

Criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, tido como importante na consolidação da União Europeia; e

Retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria miliar, de doutrina e políticas de defesa.

Lula recebeu os 10 presidentes de outros países da América Latina no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF), na tentativa de retomar o bloco das nações do continente e liderança brasileira. Estiveram presentes os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela).


A presidente do Peru, Dina Boluarte, não compareceu por questões constitucionais relacionadas à crise política instalada desde o fim de 2022, com a destituição do agora ex-presidente Pedro Castillo. Representou o país na reunião o presidente do conselho de ministros do país, Alberto Otárola.


Ainda no encontro, Lula apontou a necessidade de uma aliança em torno da integração da região a outras potências. Lula citou a necessidade de reconstrução do Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). 


Sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem é adversário direto, o atual mandatário apontou que o Brasil ficou isolado diplomaticamente e interrompeu avanços nos últimos anos ao ter um "governo negacionista". De acordo com ele, a América do Sul havia deixado "de ser apenas uma referência geográfica e se tornou uma realidade política", mas "infelizmente esses avanços foram interrompidos nos últimos anos".


Lula lembrou que a América Latina irá sediar, nos próximos anos, eventos dos principais foros de governança global, como a reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, no Peru, a Cúpula do G20, a reunião dos BRICS e a COP 30, do clima, no Brasil. Por isso, os países precisam "chegar a esses espaços unidos, como interlocutores confiáveis e buscados por todos".


Assista abaixo: 


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