Jornal Francês Le Monde diz que ¨Jair Bolsonaro provoca vazamento na saúde e semeia uma futura morte de milhares de Brasileiros¨

O tradicional jornal francês “Le Monde” publicou um editorial em seu site nesta segunda-feira (18) em que afirma que o presidente Jair Bolsonaro nega a gravidade da pandemia de Covid-19 e conduz o Brasil em uma via “extremamente perigosa”. A postura do presidente “causa caos na saúde e semeia a morte”, segundo o diário.

Editorial é o nome dado ao artigo que representa a opinião do veículo de comunicação que o publica.

“Oficial subalterno expulso do exército e um obscuro deputado de extrema-direita, zombado por seus pares por três décadas, Bolsonaro não tinha nada de um estadista. Chegando ao poder, consumido pela amargura e pela nostalgia, o ex-capitão da reserva continuou a acusar o odiado ‘sistema’. Postura que, durante um período de pandemia aguda, causa caos na saúde e semeia a morte”, diz o texto.

O editorial começa com a afirmação: “Não há dúvida de que há algo podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro, pode afirmar sem se preocupar que o coronavírus é uma 'gripezinha' ou uma 'histeria' nascida da 'imaginação' da imprensa”, diz.

Le Monde” opina que há “algo de podre” no país quando:

Bolsonaro participa de aglomerações e clama as autoridades locais a abandonar as restrições impostas para contenção da expansão da pandemia em um momento em que “os cemitérios do país registram um número recorde de enterros”.
o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se refere ao novo coronavírus como “comunavírus”, ao afirmar que a pandemia é resultado de “um complô comunista”.
o ministro da saúde Nelson Teich deixa o cargo quatro semanas após sua nomeação por “divergências de pontos de vista”, no dia em que o país chegou a 240 mil casos confirmados e mais de 16 mil mortos.
Segundo o diário francês, “para muitos, as horas sombrias que o Brasil atravessa lembram as da ditadura militar, quando o país foi submetido ao medo e à arbitrariedade”.

“O Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde fatos e realidade não existem mais. Nesse universo sob tensão, nutrido por calúnias, incoerências e provocações mortíferas, a opinião é polarizada em uma nuvem espessa de ideias simples, mas falsas”.


O texto afirma que a negação da gravidade da pandemia faz com que metade da população não leve em consideração os apelos dos profissionais da saúde, dos governadores e dos prefeitos para que mantenham o distanciamento social.

O jornal diz que Bolsonaro defende que a atividade econômica deve continuar a todo custo fazendo um “cálculo político insensato” de que “os feitos devastadores da crise serão atribuídos aos seus opositores”.

“Nesse país, que saiu há apenas 25 anos da ditadura, onde a democracia segue frágil e até disfuncional, o fato de politizar dessa maneira uma crise de saúde é totalmente irresponsável”, segundo o "Le Monde".

O jornal afirma que “alguns evocam um cenário de golpe institucional”. Segundo o editorial, Bolsonaro deixou claro em manifestação de apoiadores que, caso a Suprema Corte investigasse ele ou seus parentes, não respeitaria a decisão dos juízes.

“Depois de ter praticado a negação histórica do Holocausto, elogiado a ditadura, negado a existência dos incêndios na Amazônia e a gravidade da pandemia de Covid-19, Bolsonaro e sua tentação autoritária correm o risco de levar o país a uma situação perigosa”.

'Brasil desarmado'
Na capa que deve aparecer na edição impressa de terça-feira (19), o jornal afirma “Bolsonaro ignora a catástrofe do coronavírus". O periódico lembra que o “país tem a maior taxa de contaminação do mundo", que vírus poderia matar até 190 mil pessoas em até 3 meses e cerca de “30 demandas de destituição do presidente foram levadas ao Parlamento".

A capa traz ainda uma charge criticando o desmatamento no Brasil. A ilustração mostra pessoas com máscaras correndo em uma floresta com a descrição "Na França, as florestas são acessíveis". Em um segundo momento, mostra um índio andando entre árvores cortadas e a frase : "no Brasil também".

Na reportagem “Coronavírus: Brasil desarmado face ao colapso da saúde”, que foi divulgada na versão online do jornal nesta segunda, o jornalista Bruno Meyerfeld traz um panorama do combate ao novo coronavírus no país.

O texto, que começa com a narrativa da morte de uma mulher em Manaus, menciona projeções do projeto Covid-19 Brasil que o país já pode ter entre 2,5 milhões e 3,4 milhões de casos de infecção pelo novo coronavírus, o que representaria 15 vezes mais do que as estatísticas oficiais. Ele cita ainda o Imperial College de Londres que aponta que o país tem a maior taxa de contaminação do mundo e a previsão alarmista da Universidade de Washington de que até 193 mil poderiam morrer até o mês de agosto.

Leia à integra abaixo:

Há, sem dúvida, algo podre no reino do Brasil, onde o presidente, Jair Bolsonaro, pode dizer sem alarde que o coronavírus é uma "gripe" ou uma "histeria" nascida da"imaginação" da mídia. Algo podre, quando toma banho em multidões, exorta as autoridades locais a abandonar as restrições e afirma que a epidemia "está começando a desaparecer", enquanto os cemitérios do país estão registrando um número recorde de enterros. Quando seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu o "comunavírus", alegando que a pandemia era resultado de uma conspiração comunista. Quando o ministro da Saúde Nelson Teich renunciou em 15 de maio, quatro semanas após sua nomeação para esta pasta crucial, por "diferenças de opinião"no dia em que o país atingiu 240.000 casos confirmados e mais de 16.000 mortes.


Para muitos, as horas escuras do Brasil, hoje a quinta nação mais afetada pela pandemia, lembram as da ditadura militar, quando o país foi submetido a medo e arbitrariedade. Com uma diferença de tamanho: enquanto os generais reivindicavam a defesa de uma democracia atacada, segundo eles, pelo comunismo, o Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde os fatos e a realidade não existem mais. Neste universo tenso, alimentado por calúnias, inconsistências e provocações mortais, a opinião polariza-se em uma nuvem de ideias simples, mas falsas.

A negação mantida pelas autoridades impede metade da população de se confinar, enquanto os apelos para o distanciamento físico por profissionais de saúde, governadores e prefeitos são apenas seguidos moderadamente. A atividade econômica deve continuar a todo custo, diz Bolsonaro, que está lutando para medir a pandemia enquanto faz um cálculo político sem sentido: os efeitos devastadores da crise serão atribuídos a seus oponentes, ele espera.

Caos na saúde
Um oficial júnior excluído do exército e um obscuro deputado de extrema-direita, ridicularizado por seus pares por três décadas, Bolsonaro não era estadista. Chegando ao poder, consumido pelo ressentimento e pela nostalgia marrom, o ex-capitão da reserva tem repetidamente soado a acusação contra o vergonhoso "sistema". Uma postura que, em tempos de pandemia aguda, causa caos à saúde e semeia a morte.

Por força de trapaça com os fatos, governantes populistas acabam acreditando em suas próprias mentiras. Você pode vê-lo em outro lugar do mundo. Mas aqui, neste país que emergiu há apenas 25 anos da ditadura, onde a democracia permanece frágil, mesmo disfuncional, o fato de politizar uma crise de saúde excessiva é totalmente irresponsável.

Com uma base de 25% dos eleitores, Bolsonaro sabe que seu espaço para manobraé estreito. Alguns estão agora falando sobre o cenário de um golpe de estado institucional. Diante da multidão que veio apoiá-lo em Brasília, o presidente deixou claro em 3 de maio que, no caso de uma investigação do STF contra ele ou seus familiares, não respeitaria a decisão dos juízes. Depois de praticar a negação histórica ao exaltar a ditadura, negando a existência de incêndios na Amazônia e a gravidade da pandemia do Copia-19, Bolsonaro e sua tentação autoritária correm o risco de arrastar o país para um perigoso voo.

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