Rússia pede que Bolsonaro faça 5 testes de covid-19 antes de encontro com Putin

De acordo com as orientações enviadas pelo Kremlin ao governo brasileiro, às quais a BBC News Brasil teve acesso, Bolsonaro e os membros da comitiva que se aproximarão de Putin teriam que fazer exames até cinco exames do tipo PCR para detecção de covid-19.



Um deles seria feito entre três e quatro horas antes do encontro com o presidente russo. Procurados, nem o Itamaraty e nem o Palácio do Planalto responderam se Bolsonaro vai acatar o pedido.


A exigência de pelo menos cinco testes do tipo PCR para os membros da comitiva que irão se encontrar com Putin foi enviada pelo governo russo no início de fevereiro, quando as autoridades dos dois países acertavam os detalhes da visita.


Segundo as orientações russas, todas as pessoas da comitiva brasileira, inclusive os passageiros do avião que transportará Bolsonaro, deve apresentar três testes PCR negativos antes do embarque.


O primeiro deverá ser feito de quatro a cinco dias antes da chegada à Rússia. O segundo tem de ser feito com dois dias de antecedência e o terceiro na véspera da chegada a Moscou.


Além desses três, os integrantes da delegação brasileira que irão participar dos encontros com Putin foram orientados a realizar mais dois. Um deles seria realizado na chegada à Rússia e o último, entre três e quatro horas antes do encontro com o presidente russo.


A recomendação enviada pelo governo russo ao Itamaraty diz expressamente que a orientação dos exames também se aplica a ao chefe da delegação, no caso, o presidente Bolsonaro.


Diferentemente de Bolsonaro, que já deu declarações indicando que não tem a intenção de se vacinar, Putin, segundo o governo russo, já está vacinado contra a covid-19.


A Rússia é um dos países mais afetados pela covid-19 no mundo. De acordo com levantamento feito pela Universidade Johns Hopkins, é o quarto país em número de mortes causados pela doença, com 331,1 mil mortos e mais de 13 milhões de casos confirmados.


Em número de mortos, o país só está atrás da Índia (507 mil), Brasil (636 mil) e Estados Unidos (915 mil).


A preocupação dos russos com a possibilidade de contaminação de Putin não é exclusiva em relação aos brasileiros e protocolos semelhantes foram adotados nas visitas de outros chefes de Estado ao país recentemente.




Nesta sexta-feira (11/2), por exemplo, o governo russo confirmou que o presidente francês, Emmanuel Macron, se recusou a ser submetido a exames de covid-19 realizados por profissionais russos exigidos pelo país durante sua visita ao país, nesta semana.


Macron se encontrou com Putin na terça-feira (8/2), em Moscou, para discutir a crise na fronteira entre a Rússia a Ucrânia.


De acordo com a BBC, uma fonte afirmou que o protocolo sanitário exigido pelos russos foi considerado "inaceitável" pelos franceses.


Diante da recusa de Macron, o encontro aconteceu mediante o respeito de um estrito regime de distanciamento social.


Os dois foram fotografados nas pontas de uma mesa de aproximadamente quatro metros de comprimento.


A BBC News Brasil enviou questionamentos ao Ministério das Relações Exteriores e ao Palácio do Planalto indagando sobre se o presidente Bolsonaro se submeteria aos exames pedidos pelo governo russo.


O Itamaraty informou que a resposta deveria ser dada pelo Planalto que, por sua vez, não se manifestou até o momento.


De acordo com o Itamaraty, Bolsonaro embarca na segunda-feira (14/2) para sua visita oficial à Rússia.


A sua chegada está prevista para a terça-feira (15/2) e o encontro com o presidente russo está marcado para a quarta-feira (16/2).


A previsão é de que Putin e o presidente brasileiro se encontrem em duas ocasiões nesse mesmo dia. A primeira será um encontro em que os dois terão uma conversa com o auxílio de intérpretes. A segunda será um almoço com a presença de outros membros da delegação.


Após a visita a Putin, Bolsonaro deverá ir à Hungria, onde está previsto um encontro com o primeiro-ministro Viktor Orbán, na quinta-feira (17/2).


A visita de Bolsonaro a Putin acontece em meio ao aumento das tensões na fronteira da Rússia com a Ucrânia. Nos últimos meses, o exército russo deslocou milhares de soldados para a região.


O movimento gerou críticas de países europeus e dos Estados Unidos que afirmam temer uma invasão da Ucrânia pela Rússia. As autoridades russas, porém, criticam a possibilidade de a Ucrânia passar a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança criada durante o período da Guerra Fria para fazer frente ao antigo bloco liderado pela ex-União Soviética.


Em 2014, a península da Crimeia, região que pertencia à Ucrânia, foi anexada pela Rússia. Além disso, um conflito envolvendo separatistas pró-Rússia na região ucraniana de Donbas já matou pelo menos 14 mil pessoas.


É nesse contexto que a visita do presidente brasileiro vai acontecer. Diplomatas brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a crise ucraniana não deverá fazer parte do centro das conversas entre Bolsonaro e Putin.


Segundo eles, o tema principal deverá ser a pauta econômica, a cooperação bilateral e os BRICS, bloco de países emergentes formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.


A apoiadores, Bolsonaro disse que só deverá tratar da crise ucraniana se Putin trouxer o assunto à tona.


Mesmo assim, a visita dele a Putin gerou reações no governo norte-americano.


Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, o país disse que o "Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades".


A declaração foi entendida como um sinal da contrariedade do governo estadunidense em relação à viagem de Bolsonaro à Rússia em meio à crise da Ucrânia.

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