Michelle Bolsonaro pode ocupar espaço deixado por Jair Bolsonaro, apesar de oposição dos filhos


Michelle Bolsonaro aproveitou o dia das mulheres para dar visibilidade ao seu cargo no PL Mulheres. Com capital político e carisma, ex-primeira-dama é forte concorrente à posição de nova líder da direita bolsonarista, diz analista.

Nesta quarta-feira (8), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro veiculou vídeo em comemoração ao dia internacional da mulher, dando o pontapé inicial de sua carreira política no Partido Liberal (PL), como presidente nacional do PL Mulheres.

No vídeo, Michelle Bolsonaro apresenta mensagens de cunho religioso e motivacionais para mulheres conservadoras brasileiras.

Michelle Bolsonaro hoje ocupa o cargo de presidente nacional do grupo de mulheres do Partido Liberal, gerindo orçamento de cerca de R$ 860 mil mensais. O salário da ex-primeira-dama é de cerca de R$ 33,7 mil, de acordo com o jornal Estado de São Paulo.

Os recursos são oriundos de fundo partidário vultuoso, obtido após o PL eleger a principal bancada da Câmara dos Deputados, com 99 deputados.


"O PL está investindo na carreira política dela, por reconhecer o capital político que ela angariou durante os quatro anos do governo Bolsonaro", disse a professora e pesquisadora no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Michelle Fernandez.

Apesar do bom desempenho eleitoral em 2023, o partido tem votação inferior entre o eleitorado feminino, o que justifica o investimento em Michelle Bolsonaro como presidente do PL Mulheres.



A ex-primeira-dama também estará encarregada de manter o eleitorado de seu marido mobilizado, enquanto ele permanece nos EUA. Jair Bolsonaro recebeu mais de 58 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2022, um aumento de 0,7% em relação a sua votação em 2018.
Para isso, Michelle mobilizará seu enorme capital digital em redes sociais, nas quais conta com mais de 5,9 milhões de seguidores– marca que supera a do filho mais popular do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro.

Em recentes postagens voltadas para o público feminino, Michelle se colocou contra o abuso sexual de mulheres durante o Carnaval e apoiou mães de crianças com deficiências, as chamadas "mães raras".

"Vamos trabalhar, vamos viajar por todo o Brasil com a pauta da mulher, com a pauta da mulher com deficiência, da mãe rara e o engajamento também da mulher na política. Nós queremos estimular isso em todas as mulheres do Brasil", disse Michelle ao anunciar turnê pelo país para estrear seu novo cargo.


A influência de Michelle Bolsonaro no eleitorado evangélico é relevante. A ex-primeira-dama participa frequentemente de cultos, inclusive para tratar de assuntos políticos. Atualmente, os evangélicos já representam um terço do eleitorado nacional e podem se tornar a maioria nas próximas décadas.


"Michelle se consolidou entre os grupos religiosos, principalmente entre as mulheres, em escala nacional", disse Fernandez. "O PL está inclusive vislumbrando uma possível candidatura a cargo eletivo para a primeira-dama."
Para a cientista política, Michelle tem potencial para ser alçada à nova liderança da direita bolsonarista. A ex-primeira-dama inclusive sai na frente de figuras como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na corrida pelo trono conservador.


"Michelle teve nos holofotes durante quatro anos, é carismática e fez caravanas religiosas por todo o país", considerou Fernandez. "Ela tem projeção nacional, o que não necessariamente é o caso de outras lideranças ligadas ao bolsonarismo."
No entanto, a corrida de Michelle rumo ao topo não será fácil, e poderá ser alvo de oposição interna e inclusive de fogo amigo.


"A própria família Bolsonaro tem dificuldades com a carreira política de Michelle, que não tem uma relação fluida com os filhos políticos do ex-presidente", relatou Fernandez. "Há uma disputa interna na família para ocupar o espaço que originalmente é de Jair."



Escândalo das joias


A aparição de Michelle no dia das mulheres veio em meio à polêmica ao redor das joias presenteadas à ex-primeira-dama pelo governo da Arábia Saudita, estimadas em mais de R$ 16 milhões.


De acordo com denúncia do jornal Estado de São Paulo, membros do governo Bolsonaro teriam tentado burlar a alfândega e entrar com as joias ilegalmente no território nacional, em outubro de 2021. De acordo com o ministro da Justiça, Flávio Dino, a entrada irregular pode configurar crime de descaminho, lavagem de dinheiro e peculato.


Anteriormente, Michelle havia recorrido às redes sociais para rebater as acusações, dizendo não saber que ela "tinha tudo isso".
"Vocês vão longe mesmo, hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa imprensa vexatória", escreveu Michelle nas redes.


Michelle Bolsonaro já havia ganhado o foco da mídia em função de escândalos durante o governo de seu marido. Em 2022, a primeira-dama foi apelidada de "Micheque", em função de ter recebido depósito de 90 mil reais do então operador do esquema de rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Fabrício Queiroz.


Neste ano, Michelle também foi acusada de negligenciar o cuidado com o Palácio da Alvorada, que foi entregue ao sucessor de Jair Bolsonaro em mau estado de conservação, de acordo com reportagem da jornalista Natuza Nery.



A falta de limpeza do espelho d'água do palácio teria inclusive levado a morte das carpas presidenciais. Além disso, as moedas jogadas por turistas que visitam o local, em superstição para atrair boa-sorte, teriam sido coletadas pela primeira-dama e, segundo ela, doadas para uma instituição de caridade.


Para Fernandez, o eleitorado bolsonarista parece imunes à má repercussão de escândalos de corrupção e outros mal feitos de seus líderes.
"Durante o governo Bolsonaro, tivemos uma série de escândalos como esse, mas isso não teve um impacto significativo na base eleitoral do presidente", notou Fernandez. "Tendo a achar que esse tipo de notícia não mobiliza o eleitorado bolsonarista."



Na quarta-feira (7), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que mobilizará advogados para solicitar a devolução das joias presenteadas a ela pelo governo da Arábia Saudita a Riad. Com o requerimento, Michelle tem o intuito de alegar que não tem relação com o episódio.

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