No tempo certo, diz Donald Trump sobre normalizações das relações entre Israel e Arábia Saudita pelo Acordo De Abraão
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta 3ª feira (13.mai.2025) que o seu “desejo” é que a Arábia Saudita faça parte dos Acordos de Abraão. Em passagem pelo país, o líder norte-americano disse que “será um dia muito especial para o Oriente Médio” caso os sauditas decidam integrar o tratado. “Será um dia muito especial para o Oriente Médio, com o mundo todo de olho, quando a Arábia Saudita se juntar a nós. Isso me honrará profundamente, e honrará todos aqueles que lutaram tanto pelo Oriente Médio. Acredito que será algo realmente especial, mas acontecerá no seu tempo. É o que eu desejo, o que vocês desejam, e como será”, declarou Trump durante fórum de investimentos na capital Riad.
O documento é composto por uma série de tratados de normalização de relações diplomáticas entre Israel e alguns países árabes. Foi uma importante vitória para Israel, que não era reconhecido como um Estado legítimo por alguns países do Oriente Médio. O príncipe saudita, Mohammed bin Salman, entretanto, disse em fevereiro de 2025 que a Arábia Saudita não iria normalizar as relações com o país “enquanto não existir um caminho claro para a criação de um Estado palestino e o fim permanente da guerra em Gaza”.
ENTENDA Os Acordos de Abraão feitos por Jared Kushner no primeiro mandato de Trump, que foram firmados em Agosto de 2020, por telefone, pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pelo príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed Bin Zayed e por Trump.
Os seguintes países fazem parte:
Estados Unidos;
Israel;
Emirados Árabes Unidos;
Bahrein;
Sudão;
Marrocos.
O principal objetivo da turnê foi econômico: captar vultosos investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia americana, como tecnologia, inteligência artificial (IA), energia e aviação. A estratégia teve resultados expressivos: os três países prometeram aportar mais de US$ 1,4 trilhão em projetos nos EUA.
Na Arábia Saudita, Trump conseguiu compromissos de US$ 600 bilhões, superando os US$ 450 bilhões anunciados em sua visita de 2017. Os sauditas destinarão grande parte desses recursos ao setor de IA, com destaque para um investimento de US$ 80 bilhões que alavancou ações de empresas como a Nvidia. No Catar, os acordos somaram US$ 243 bilhões, com foco em energia e infraestrutura tecnológica.
Já os Emirados anunciaram aportes de US$ 200 bilhões, com a expectativa de elevar seus investimentos em energia nos EUA a US$ 440 bilhões até 2035. Também firmaram contratos para aquisição de chips avançados de IA e iniciarão, em parceria com empresas americanas, a construção de um mega campus de inteligência artificial em Abu Dhabi.
Além do setor tecnológico, a aviação também foi contemplada. A companhia Etihad Airways fechou um contrato de US$ 14,5 bilhões com a Boeing para compra de 28 aeronaves widebody. Em termos diplomáticos, a viagem reforça a nova prioridade geopolítica de Trump: relações pragmáticas com regimes ricos e autoritários do Golfo, mesmo que isso signifique afastar-se de aliados históricos como os países da OTAN.
Paralelamente à agenda oficial, chamou atenção a atuação empresarial dos filhos de Trump na mesma região. Eric Trump, por exemplo, esteve em Dubai dias antes da visita presidencial, lançando um novo empreendimento imobiliário: a Trump International Hotel & Tower Dubai.
Nos Emirados, a família Trump também conseguiu um aporte de US$ 2 bilhões para seu projeto de criptomoeda, enquanto no Catar Eric fechou um acordo de US$ 5,5 bilhões para desenvolver um mega clube de golfe.
Na Arábia Saudita, os Trump mantêm projetos imobiliários e eventos esportivos patrocinados pelo fundo soberano local. A simultaneidade entre negócios privados da família e decisões públicas da presidência levanta suspeitas de conflito de interesses, segundo analistas.
Trump e a Síria
Outro ponto central da viagem foi a surpreendente decisão de Trump de encerrar as sanções americanas contra a Síria. O gesto atendeu a um pedido do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), e teve como contrapartida o reconhecimento informal do novo governo interino sírio, liderado por Ahmed al-Sharaa.
Ex-líder do grupo jihadista Tahrir al-Sham, Sharaa representa um governo de raízes islamistas. Apesar disso, seu discurso moderado e disposição para normalizar relações com o Ocidente vêm mudando a percepção sobre sua figura.
O novo governo sírio ofereceu benefícios diretos a Trump: a construção de uma Trump Tower em Damasco e contratos preferenciais de exploração de petróleo e gás por empresas americanas.
Após o anúncio do fim das sanções, empresas estrangeiras já começaram a negociar investimentos na Síria, como a DP World, que pretende investir US$ 800 milhões no porto de Tartus. A reinserção de Damasco no cenário internacional é vista com preocupação por aliados tradicionais dos EUA, especialmente Israel, que não foi consultado sobre a medida e desconfia das intenções do novo governo sírio.
Alerta ligado para a economia dos EUA
Internamente, as políticas econômicas e diplomáticas de Trump vêm gerando tensões. Na última sexta-feira, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos de AAA para Aa1, citando o aumento da dívida pública e a instabilidade política.
A decisão provocou reações nos mercados, com alta dos juros dos títulos do Tesouro, e abriu nova frente de críticas ao governo. Parlamentares democratas responsabilizaram as propostas de cortes de impostos para os super-ricos por pressionarem ainda mais o déficit fiscal.
Além disso, a confiança do consumidor nos EUA caiu significativamente. O índice da Universidade de Michigan recuou para 50,8 pontos, o menor nível em quase três anos. A deterioração das expectativas é atribuída à alta da inflação, aos conflitos fiscais em Washington e à retomada de uma guerra tarifária com a China.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também revisou para baixo suas projeções de crescimento do PIB americano, estimando agora alta de 1,8% em 2025, com risco crescente de recessão.
Em suma, Trump aposta num modelo de relações internacionais altamente transacional: em troca de investimentos vultosos, cede espaço diplomático a regimes autoritários e, como no caso da Síria, ajuda a reabilitar governos de histórico radical. Esse pragmatismo pode gerar ganhos de curto prazo, mas apresenta riscos consideráveis.
No cenário doméstico, a conjunção entre populismo fiscal, guerra comercial e incertezas políticas começa a minar a credibilidade econômica dos EUA. Assim, o segundo mandato de Trump caminha para ser definido por uma dualidade: de um lado, capta recursos trilionários no exterior; de outro, enfrenta crescente desconfiança interna e sinais de fragilidade econômica.