Como não há maior modinha no mundo do que o feminismo, o que é mais useiro e vezeiro na atualidade é que pessoas com pouca instrução no assunto, sobretudo mulheres jovens, passem a se considerar feministas e associem tudo que existe de bom ao feminismo: direito ao voto, não ser espancada, medicina ginecológica, ruas seguras, o fim da moda da calça fuseaux com tira no pé, o último Tomb Raider ou o Tylenol: tudo é associado ao “feminismo”.


Todo o resto que seja ruim, do Merthiolate ardido ao estupro seguido de desmembramento, seria “machismo”, colocando-se no mesmo balaio, amacetados na mesma palavra, tanto o homicídio de mulheres quanto a moral cristã que o condena, tanto a impertinência contra a mulher quanto o código de conduta do cavalheirismo que o evita e o persegue.





Já falamos diversas vezes por aquiFeminista gorda querendo um sanduíche  que o feminismo é um signo flutuante: tal como a palavra mágica “mana” das línguas austronésias, pode significar qualquer coisa que o falante deseje. Se no pensamento mágico acreditava-se criar a própria matéria ao mentalizar algo em conexão com o poder do cosmo, no pensamento primitivo da era Twitter, basta verbalizar em uníssono que feminismo é X, e feminismo passará a ser X. Ainda que a totalidade das feministas odiasse X até uma hora atrás.
Nas tribos antigas e modernas, a magia só funciona se toda a comunidade acreditar nela: um curandeiro recitando palavras mágicas ou ideólogas crendo que “estudaram feminismo” por lerem duas páginas de Simone de Beauvoir na aula de Sociologia do Cinema fazem o mesmo efeito. Basta uma bolha social conversar entre si concordando para se sentirem um “consenso científico”.




O feminismo, que juram ter “estudado”, não é um corpo doutrinal como o marxismo ou a maçonaria. É apenas um mana, uma palavra-mágica para ser sacada quando se vê algo e se associa com o que se deseja (desconto para mulheres? feminismo! iPhone rosa? feminismo! problematizar um elogio? feminismo!). É mais parecido com o espiritismo ou o Helter Skelter: feministas que dizem ter “estudado” feminismo, quando muito, deram uma olhadinha em Simone de Beauvoir e Judith Butler, mas não há um “manual de feminismo” além de “diga que feminismo é lutar pelos direitos das mulheres, e às vezes diga ‘igualdade'”.
Basta perguntar a uma feminista sua opinião sobre a legalização da prostituição, e em instantes o funil “mulheres x homens” mostraria sua insuficiência. Afinal, a prostituição deve ser legalizada porque uma mulher deve dispor de seu corpo como bem entender (“meu corpo, minhas regras! tirem seus rosários dos meus ovários!”) ou a exploração masculina do sexo é uma “objetificação” da mulher que deve ser proibida em nome da decência das mulheres, já que homens as estão explorando como pedaços de carne?
Uma simples questão objetiva mostra como nada sabem sobre o que é o tal “patriarcado” que tanto criticam, e como seus ataques revolucionários são apenas palavras de ordem de uma turba manipulada e enfurecida, e não um “estudo”. Um fato basilar e antiquíssimo da realidade põe todo o castelo de cartas da ideologia abaixo, dissecada na autópsia das superstições moderninhas.
É esta maçaroca amorfa que chamam de “pensamento” e “crítica” (e “teoria” ou, oh, horror, de filosofia!!!). Ela que transforma jovens de personalidade fraca, que em 1860 acreditariam em frenologia, em radicais e fanáticos feministas, crendo que descobriram a causa e solução a todos os problemas do mundo. Nada disso é determinado: nem o problema, muito menos a “solução feminista”, este fantasma que não existe nem na cabeça de feministas-chefes. Na verdade, como para os benzedores do mana, a única forma de a mágica funcionar é todos repetirem “feminismo” até terem um pensamento único – qualquer que seja ele.  A Terceira Internacional Comunista é um jardim da infância perto do feminismo.
O feminismo, então, é a sociedade de controle par excellence. Não é surpresa que produza os mais histéricos, fanáticos, irritadiços, monomaníacos e generalistas-relativistas dentre as ideologias modernas. Querem controlar tudo, odiando um “patriarcado” ao qual devem tudo. Por ser modinha.
O problema é que, munidos de conceitos vaporosos, até mesmo os fatos mais dolorosamente concretos da vida se tornam pessimamente analisados por feministas. O caso do estupro é o mais claro: o crime mais horrendo, punido com um rigor extremo até mesmo dentro de cadeias, é tratado não como um ato individual, mas como uma “cultura de estupro” (sic), mostrando que o objetivo do feminismo não é punir estupradores, mas a sociedade ocidental – inclusive e talvez sobretudo quem não é estuprador e o repudia e quer sua punição. Cada vez mais feministas trazem ao nível da consciência o resultado deste generalismo, se tornando fanáticas eleitoras de partidos de extremíssima-esquerda.
Ora, sociedades baseadas em controle contra a realidade sempre fracassam. A vantagem da sociedade ocidental foi justamente a liberdade (ainda que mal utilizada, do contrário voltaríamos ao controle). O chamado “conservadorismo”, tão repudiado, é justamente o contrário do controle: é conservar aquilo que foi testado pela experiência (inclusive as modernidades; o Netflix pode muito bem ser “conservador”), não apenas aquilo que pareça ter discursos sedutores. Platão e mesmo Odisseu já sabiam do perigo de poetas e cantos de sereia.
Prescindindo deste controle totalitário sobre a existência, o código de conduta social do que foi chamado de cavalheirismo nunca precisou de um discurso ideológico para controlar: era tão funcional que era uma honra e uma nobreza se submeter às suas regras.



Graças a este pensamento de macumba multicultural do relativismo moderno, é fácil notar como quem se identifica como “feminista” possui uma profunda falta de definições claras em seu pensamento. Aquilo que, afinal, mais impede o raciocínio – era com a polissemia e as múltiplas camadas das palavras que os sofistas conquistavam platéias com pensamentos enganosos, e contra tal “método” de enganação com conceitos escorregadios que Sócrates criou a filosofia e, filhas desta, inúmeras ciências.
O feminismo (sofismo + recalque), ao contrário do pensamento filosófico-científico, prefere apenas encontrar uma fórmula mágica para problemas cuja solução verdadeira exigiria décadas de estudo. Assim, tudo passa pelo funil “mulheres x homens”, sem uma análise histórica, antropológica, biológica ou mesmo econômica, e tudo é resolvido com “políticas para mulheres”. Uma espécie de Bolsa Família ou cota para tudo: dos cargos de CEO ao estupro em festa de faculdade, da divisão social de tarefas (que, ehrr, depende da divisão social do trabalho) ao aborto. E muito aborto.

Cavalheirismo, afinal, implica que toda a força masculina da sociedade deve ser usada para proteção da mulher. As diferenças biológicas são mantidas claras, e todo ato masculino deve existir em subserviência às mulheres. Daí a corte, o código de cavalaria, o amor quase platônico. Homens que iam para guerras em lugares desconhecidos apenas por um amor não satisfeito. No dizer de G. K. Chesteron, não porque odiassem o que viam à frente, mas porque amavam o que deixavam para trás.
Também sob tal batuta restam efeitos atuais do cavalheirismo: abrir a porta do carro não se faz porque mulheres são estúpidas demais para abrir sozinhas (como querem problematizar feministas com seu funil e sua aversão ao estudo da realidade), mas como uma demonstração de que está desejoso de proteger e servir quem merece sacrifícios (aquilo que não pode ser verbalizado sem constrangimento, mas vira gentileza abaixo das palavras).
Mesmo andar nas calçadas com as mulheres para o lado de “dentro”: não se trata de estar “vendendo a mulher” (loucura que só existia em zonas de prostituição, como portos), mas porque as carruagens que dominavam as ruas tinham como combustível o chicote dos cocheiros, que não raro estalavam em mulheres e crianças nas calçadas. Daí que os homens, graciosamente, num gesto de cavalheirismo, permitiam que as mulheres fossem protegidas. Alguns crêem que o costume se deu com a abertura de Romeu e Julieta, quando Gregório, o criado dos Capuleto, grita “The weakest goes to the wall”, mas a frase já data de cerca de 1550 e o conceito, de 1500. Parece que é mais um daqueles inúmeros dados da realidade que a teoria feminista não parece interessada em ensinar a futuras sociólogas em cursos universitários.
Os costumes se perdem, mas o símbolo fica (tal como “ostracismo”, um dia, foi uma punição jurídica de ser obrigado a sair da cidade). Cavalheiros usam sua força não apenas para servir às mulheres, mas também devotam suas vidas a alegrá-las, o que décadas de feminismo só fez por aumentar o ressentimento. Cavalheiros necessariamente amam e controlam seus impulsos. Não houvesse mulheres, não haveria cavalheirismo, e homens poderiam ser brutos como são entre si.
Mulheres e homens que se consideram “feministas” sempre falam em palavras acadêmicas genéricas e indiscerníveis como “direitos das mulheres” ou “igualdade” (mostrando que é uma pauta que depende de um Estado gigantesco e distributivista, quando não francamente comunista), presumindo um controle imenso da sociedade e uma mediação das relações humanas por um Estado interventor policial, mas não pensam que as melhorias para as mulheres dependem de ações anteriores a um controle totalitário.
Quando falam em estupro e, ao invés de reclamar punições duras a estupradores, separando-os dos homens não-estupradores, acabam dissolvendo todos os atos masculinos em uma fantasiosa “cultura de estupro”, o que querem é uma revolução no sistema, e não alguma segurança para as mulheres. Exigir cavalheirismo é também exigir que a força masculina seja dura contra agressores, por isso está ligada a virtudes como honra, deferência, fortaleza e mesmo castidade.
Tratando feminismo como uma palavra-passe, um mana, um signo flutuante para tudo o que favoreça uma mulher em determinada situação, não se atenta justamente para o que protege as mulheres e o que as explora (o socialismo e Estados vigilantes, para começar). Trata-se atos, fatos, fenômenos, intenções e pensamentos que favoreçam uma mulher em determinado instante como “feminismo”, para no momento em que estes mesmos dados se tornem minimamente desagradáveis, caiam no reducionismo inverso do “machismo”.



Usualmente, crê-se que o feminismo será futuramente o responsável por mulheres não receberem cantadas de pedreiro na rua, que não estejam em perigo ao se embebedar numa festa com os homens da faculdade ou que tenham um cargo de chefia numa empresa. Não se percebe que está se exigindo um código de conduta para os homens que seja funcional até mesmo no monólogo íntimo da consciência com a onisciência, até mesmo quando ninguém está vendo – a polícia ou os textõezeiros do Facebook. E esse código de conduta não é uma ideologia de policiamento e histeria coletiva, e sim algo encontrável entre samurais e templários, entre trovadores franceses ou centuriões romanos. E, sobretudo, no conservadorismo patriarcal que tanto abominam sem saber o que é.
Mesmo entre relações consensuais, é flagrante testemunhar um desespero de feministas reclamando da falta de atitude de proteção de seus amigos, namorados e maridos. Além de misturar “feminismo” a fenômenos como a divisão das tarefas (99,9% dependente de diálogo e da divisão social do trabalho, e não de ideologias; basta estudar a mudança do mundo que a Primeira Guerra Mundial causou), estão sempre “problematizando” morosidade ou impetuosidade, ausência de diálogo ou, o mais comum, de ideologia.
O que gritam em caps lock no Facebook, em cursos acadêmicos cheios de simbolismos psicanalíticos-sexuais e blogs amargurados é que não têm amor. Não têm alguém que se entregue a elas, que faça sacrifícios por elas, que mova montanhas e enfrente desafios por elas. E como poderiam ter amor, se assim que se decepcionam na adolescência, ao invés de enfrentar a aventura da vida, se refugiam em uma ideologia de ressentimento e inveja, de controle e histeria, de ódio e de auto-destruição, deixando de ser atraentes e provocando tão somente relações de pura burocracia com uma bomba-relógio?
Feministas, peçam um retorno ao cavalheirismo. Vocês não terão bons homens se não exigirem que eles se portem bem, e não terão felicidade fugindo de suas dores em uma “sororidade” com outras recalcadas. O mundo nunca ficou melhor com controle, mas sempre melhorou com auto-controle.

Certa vez em São Paulo, onde o feminismo é mais difundido no Brasil, o resultado é o oposto do esperado pelas feministas, como em qualquer outro lugar onde é aplicado.
Eu estava no metrô quando vi um homem falando para sua parceira, "Vou sentar e você vai de pé, meu. Eu tô cansado. Trabalhei o dia inteiro. Aqui é direitos iguais!"
Está aí os direitos iguais.
A mulher, tentando se libertar, colocou-se em maior vulnerabilidade; mulheres que moram sozinhas têm mais chances de ataques do que quem está só.
Em mundo ideal, habitado por cavalheiros, a mulher poderia usar a roupa que quisesse e andar sozinha, mas no nosso mundo real, com homicidas e doentes mentais, realmente, a saída é não facilitar. Uma mulher acompanhada de um homem, mesmo que seja uma criança, intimida muito mais que mil admoestações. É triste, mas é a verdade.





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