EUA aprovam moeda virtual em eleições
No entanto, doações terão limite de US$ 100 e precisarão ser identificadas
WASHINGTON
— As moedas virtuais poderão desembarcar nas campanhas políticas
americanas de 2014. Em passo inédito, a Comissão Federal Eleitoral (FEC,
na sigla em inglês) autorizou nesta quinta-feira a doação de Bitcoins
aos comitês de arrecadação, independentes, dos partidos e dos
candidatos. A decisão, com o voto unânime dos seis comissários, tanto
democratas quanto republicanos, limitou a contribuição individual a US$
100 por eleição - o equivalente a 0,23 Bitcoin, pela cotação desta
quinta-feira nos EUA - mas impôs algumas restrições.
Um dos
perigos que cercam as moedas virtuais é o fato de as transações serem
anônimas. A legislação eleitoral americana proíbe, por exemplo, doações
de estrangeiros. Além disso, há espaço para a utilização de Bitcoins e
outras moedas virtuais em atividades ilegais, como tráfico de drogas e
lavagem de dinheiro. Por isso, a FEC determinou que os doadores sejam
identificados.
Demonstrando
que a autorização de doação é temporária, até ser definida uma
regulação federal de uso geral das moedas virtuais, a comissão também
não permitiu que os comitês políticos paguem bens e serviços com
Bitcoins. Para utilizar os recursos digitais, deverão convertê-los
primeiro em dólares.
A FEC já
havia analisado duas outras vezes a doação de Bitcoins a campanhas.
Segundo a comissária Ellen Weintraub, desta vez foi fundamental para a
autorização o fato de a solicitação do comitê de ação política (PAC)
Make Your Laws - ao qual foi emitida a orientação que se estende a todos
os demais comitês - ser específica para contribuições pequenas, de até
US$ 100.
- Temos que
equilibrar o desejo de acomodar inovação, uma coisa boa, com a
preocupação de continuarmos protegendo a transparência no sistema
eleitoral e garantir que dinheiro de estrangeiros não entre nos caixas -
afirmou.
Mesmo antes
da autorização da FEC, candidatos e grupos políticos já estavam
aceitando contribuições em Bitcoins dos correligionários. O Partido
Libertário divulgou que anualmente vem arrecadando entre US$ 10 mil e
US$ 20 mil em moeda virtual - uma fração muito pequena do US$ 1 milhão
que levanta. Como o uso da moeda virtual não era proibido, pois a
tecnologia é totalmente desregulamentada, não se sabe se haverá punição
retroativa.
A FEC é a
segunda agência federal americana a divulgar em dois meses uma
orientação geral em relação às moedas virtuais. Em março, a receita
federal dos EUA instruiu contribuintes de todo país a declararem a posse
de Bitcoins e moedas virtuais.
Há intenso
lobby para quebrar a resistência do Congresso à regulamentação das
moedas virtuais. A empresa Robocoin, por exemplo, instalou em abril no
Capitólio caixa eletrônico para transação de Bitcoins. Só o deputado
democrata Jared Polis, do Colorado, se aventurou, trocando US$ 10 por
0,02 Bitcoins.
Cercada de
mistério, a Bitcoin surgiu em 2009 no Japão e é uma moeda digital,
criptografada, que permite a compra de bens e serviços diretamente entre
pessoas e empresas, que mantêm carteiras virtuais. Ou seja, dispensa
bancos, não está sob regulação de governos, não tem lastro nem
garantias. Na prática, é uma sequência única de números e letras, gerada
por uma complexa equação.
Todas as
transações ficam registradas no site Blockchain. Quem quiser comprar ou
vender a moeda digital, com dinheiro de verdade, utiliza plataformas de
negociação, como a brasileira Mercado Bitcoin. A invenção é hoje uma das
principais apostas do mundo tecnológico. Outras moedas virtuais já
estão em circulação, como Litecoin e Peercoin.
Um Bitcoin
valia, nesta quinta-feira, US$ 439,1, mas a cotação é extremamente
volátil. No fim de 2013, estava em US$ 1.151. Isso porque o sistema
limita o número de moedas virtuais em circulação a 21 milhões de
unidades. Em épocas de grande procura, ao contrário do câmbio real, a
cotação sobe.
O globo