Snowden explica suas ligações ao governo russo

O antigo colaborador das agências norte-americanas CIA e NSA Edward Snowden declarou que iria pedir à Rússia para que lhe seja prolongado o período de estadia temporária no país. Ele afirmou igualmente que nunca espionou, nem a favor da Rússia, nem a favor de qualquer outro país.

[Imagem: 9snowden-nbc.jpg]


Já as suas revelações se destinavam a demonstrar até que ponto a Casa Branca e os serviços secretos dos EUA violam a Constituição do país e desrespeitam os direitos e liberdades dos cidadãos norte-americanos.

A cadeia televisiva nacional NBC transmitiu uma extensa entrevista que lhe foi dada por este “fugitivo” de 30 anos.

Edward Snowden chegou à Rússia em junho do ano passado e, depois de um mês vivendo na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, pediu asilo temporário. Seu prazo de um ano termina no dia 31 de julho.

Snowden, a quem as autoridades estadunidenses já “prometeram” uma condenação de prisão perpétua, está disposto a continuar na Rússia. Apenas pela simples razão de, por enquanto, não haver outro lugar onde ele se possa sentir em segurança:

Se eu pudesse viajar para algum lugar no mundo, esse lugar seria a minha casa. Mas eu compreendo o que me espera se eu regressar aos EUA. Por isso, quando o prazo do asilo que me foi concedido chegar ao fim, eu irei certamente solicitar a sua prorrogação”.

A NBC associou a sua conversa com o principal denunciante da América ao primeiro aniversário do início de sua saga difícil. Ela teve início no final de maio do ano passado com a viagem de Snowden do Havaí, onde trabalhava, para Hong Kong.

Por parte da administração norte-americana os comentários a esse “reavivar de Snowden” foram de grande irritação.

Qualquer referência ao caso Snowden provoca nos EUA uma reação doentia. Mesmo a crise da Ucrânia, por mais cínico que isso pareça, veio mesmo a propósito. Essa crise parece ter feito todos esquecerem que Washington espiona, numa escala nunca vista, todo o mundo: desde seus próprios cidadãos aos líderes dos outros países.

O antigo colaborador das duas agências de espionagem principais revelou o sistema de vigilância global que os Estados Unidos usavam. Afinal, sob a vigilância da CIA se encontrava mais de um bilhão de pessoas em 60 países. A NSA escutava (e escuta) as conversas dos governos de 35 países, incluindo os dos seus aliados principais.

A Alemanha expressou, no ano passado, seu protesto pela vigilância a que estava sujeita seu chanceler Ângela Merkel. A presidente do Brasil Dilma Rousseff cancelou mesmo a sua visita aos EUA como forma de protesto.

Este mês Pequim acusou os EUA de continuação da vigilância em larga escala e de espionagem industrial. Na sua totalidade, o “dossiê Snowden” eletrônico contém cerca de 2 milhões de ficheiros.

Edward Snowden está convencido de que as autoridades norte-americanas tentam propositadamente diminuir seu estatuto na CIA e na NSA e apresentá-lo como um analista técnico de segunda ordem.

Eu fui treinado durante muito tempo pela CIA e pela NSA em espionagem eletrônica em todos os níveis e eu tenho muito mais experiência do que a NSA diz”, disse Snowden. Simultaneamente ele referiu que é ridículo tentar declará-lo quase como se fosse um espião russo:

Eu não tenho absolutamente quaisquer relações com o governo russo. Eu nunca me encontrei com o presidente russo. O governo russo não me apoia e não me financia. Eu não sou um espião (da Rússia)”.

Snowden recordou que ele não pretendia de forma nenhuma viajar para a Rússia, mas sim viajar de Hong Kong para a América Latina:

Quando me perguntam como eu acabei na Rússia, eu aconselho a dirigir essa pergunta ao Departamento de Estado norte-americano.

Eu reservei um bilhete para a América Latina através de Cuba. Acabei retido (em Moscou) porque o governo dos EUA decidiu anular meu passaporte.

Assim, quando me perguntam como vim eu parar à Rússia, eu aconselho que dirijam essa pergunta ao Departamento de Estado dos EUA.

A cadeia televisiva NBC fez precisamente isso, tendo pedido ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que comentasse as palavras de Edward Snowden.

Da resposta de Kerry se depreende claramente que os EUA continuam a raciocinar dentro das categorias da Guerra Fria. Segundo disse o secretário de Estado, para ele cada pessoa que viaje para qualquer lugar em trânsito por Cuba, ou visite a Rússia, entra automaticamente para a categoria de “traidor”:

Se ele se preocupa tanto com a América, e acredita tanto na América, então ele que venha para cá e se apresente à Justiça americana. Mas em vez disso ele se esconde na Rússia, que é um país autoritário. Ele acabou de reconhecer que pretende viajar para Cuba. Já diz muito isso”.


Temos de dizer que Snowden, de 30 anos, deu na sua entrevista definições tão profundas de patriotismo e de dever cívico, contra as quais se desmoronam completamente as acusações de traidor e de vendido que despejam sobre Snowden a Casa Branca e o Departamento de Estado dos EUA. A palavra “patriota”, disse Snowden, está tão gasta que o seu significado está quase completamente desvalorizado e deturpado até ao limite:

Eu penso que ser patriota não significa de todo colocar o serviço a favor do governo acima de tudo. Para eu ser patriota significa perceber quando devemos sair em defesa do nosso país e em defesa da nossa Constituição. Em defesa dos nossos concidadãos. Em defesa contra os inimigos. E esses inimigos não são necessariamente externos. O inimigo pode ser tanto a violação da Constituição, como uma política errada”.

A onda de denúncias de Snowden fez mesmo a administração de Barack Obama anunciar uma espécie de reforma das atividades da NSA e a aplicação de um controle mais eficaz.

Contudo, segundo nós vemos através da história das reformas da CIA, normalmente elas não são muito profundas.

Como podem elas ser profundas, se a própria administração Obama colocou de fato a NSA “em piloto automático”.

Segundo os dados do Serviço de Pesquisas do Congresso dos Estados Unidos, no final dos anos de 1990 os fundos atribuídos aos serviços secretos dos EUA (CIA, Pentágono, NSA e outras agências) eram de 25-30 bilhões de dólares. Até este ano eles aumentaram para 78 bilhões de dólares.

Ou seja, triplicaram. Com este tipo de “injeções financeiras” é difícil parar.

FONTE:http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_05_2...usso-9692/

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