O Brasil vai parar

Se nada for feito de modo sério e urgente, o Brasil vai parar. Em um congestionamento 

Por Renato Parente

Glorinha é diarista na cidade do Rio de Janeiro. Mora em Belford Roxo. Todos os dias, ela perde três horas em dois ônibus para percorrer o trajeto de 40 quilômetros até o local de trabalho, no bairro de Copacabana, e mais três horas para voltar para casa. Assim, para cumprir uma jornada de seis horas de expediente, Glorinha passa outras seis horas espremida nos coletivos.
A personagem é fictícia, mas a história é verdadeira.
O Brasil tem uma legião de trabalhadores, estudantes e empresários que perdem as mais produtivas horas de seus dias parados no trânsito.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chegar ao trabalho leva mais tempo nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro do que em Londres, Nova York, Tóquio, Paris e várias outras grandes cidades. E, por ora, o futuro não é nada animador.
Em 2001, tínhamos sete habitantes por automóvel. Hoje, são quatro brasileiros por carro. O estado de São Paulo tem apenas dois habitantes por veículo.
Ter carro próprio é desejo natural na sociedade de consumo. As montadoras nos estimulam com propagandas sedutoras e prestações cada vez menores, o governo dá um empurrãozinho com reduções de impostos e, principalmente, ninguém merece o transporte público de péssima qualidade oferecido aos cidadãos. O resultado são ruas e avenidas paralisadas, sem espaço para tantos motoristas.
Mas, então, não podemos todos ter um carro ou uma moto na garagem? Podemos. O problema está na absoluta falta de compromisso de nossos prefeitos de buscar soluções criativas e viáveis para melhorar a mobilidade urbana.
Modestamente, deixo aqui três sugestões:
Primeira – integrar os veículos particulares à rede de transporte público, com a instalação de estacionamentos para carros, motos e bicicletas nas cercanias de estações de metrô e terminais rodoviários.
Segunda – oferecer alternativas para deslocamentos rápidos. Para percorrer alguns quarteirões, é irracional tomar o metrô ou um grande e poluente ônibus. Poderia ser usado o simpático bonde, presente com sucesso nas grandes cidades europeias. Ou serem criadas linhas curtas de vans e micro-ônibus.
Terceira – incentivar a descentralização dos municípios, pois ninguém enfrenta o congestionamento para o centro de uma cidade porque quer, mas porque precisa trabalhar, estudar, ir ao banco, a uma repartição pública, etc.
Se nada for feito de modo sério e urgente, o Brasil vai parar. Em um congestionamento.
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