A estupidez mata mais que o câncer

No Brasil, morre-se mais em acidentes de trânsito do que pela doença 

Por Renato parente



O câncer é uma doença terrível. Dependendo do tipo e do órgão atingido, pode ser avassalador, com tratamento doloroso e taxa de mortalidade altíssima. Mas no Brasil há outro mal que leva vidas de modo ainda mais violento, deixando um rastro de desolação e inconformismo para os entes queridos.
Por aqui, morre-se mais em acidentes de trânsito do que por homicídio ou câncer. O trânsito brasileiro é mais mortal ainda que muitas guerras travadas no planeta. De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária, em 2012, foram registrados mais de 60 mil mortos e 352 mil casos de invalidez permanente.
Para os especialistas, as causas para esse descalabro são as estradas precárias, os automóveis com tecnologia defasada ou sem manutenção adequada e, principalmente, o generalizado desprezo pelas regras de trânsito, sentimento alimentado por uma fiscalização falha – para não dizer inexistente.
É nesse terreno que aflora a estupidez do motorista. Todos sabemos, por exemplo, que não se pode beber e dirigir. Da mesma forma, ninguém ignora que não se deve andar de automóvel sem o cinto de segurança, pilotar a moto sem usar o capacete ou conduzir o veículo como se estivesse em um autódromo. O resultado da equação, quase sempre, é fatal.
Na semana passada circulava tarde da noite pela Marginal Pinheiros – grande avenida expressa da cidade de São Paulo – quando dois carros passaram por mim como se disputassem uma corrida. Não foi difícil imaginar o que se pensavam aqueles inconsequentes: nada, a não a certeza de que sentiam completo desprezo pela própria vida e de inúmeras outras pessoas que, naquele momento, colocavam em risco. Certamente, eram jovens pensando nos próximos 5 minutos de adrenalina, sem considerar a cova ou a cadeira de rodas que estavam à espreita deles logo ali, depois da curva.
O mais triste é saber que aquele mesmo local, entre a Cidade Universitária e o Jockey Club, é conhecido ponto de racha dos paulistanos há pelos menos 30 anos. Parece que só a polícia e as autoridades de trânsito não sabem disso ou preferem ignorar para não fiscalizar. E isso vale para todo o País. Em qualquer cidade há um ponto de racha conhecido pelos motoristas e pelas autoridades.
No Brasil, é a burrice que mata mais que o câncer, a violência, o diabete ou a Aids. Não uma burrice qualquer, mas aquela dos irresponsáveis ao volante e dos que deveriam zelar por todos nós no asfalto.
O jornalista Renato Parente é assessor de Comunicação Social da Universal 
fonte: Folha Universal
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