Após eleições 2022: Brasil teve segunda-feira bem agitada como uma montanha-russa no mercado financeiro; Caminhoneiros paralisam estradas e protestam por mais de 16 Estados do Brasil

 

Indicadores do mercado financeiro correram numa montanha-russa nesta segunda-feira (31) enquanto investidores ajustavam suas carteiras ao pouco que eles conseguiam enxergar sobre o futuro da economia brasileira após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), primeiro brasileiro eleito três vezes para a Presidência da República.


O petista ganhou o segundo turno (50,90%) da disputa neste domingo (30) ao derrotar o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (49,10%) (PL).


Ao final do dia de negociações no mercado, o saldo foi positivo para os investimentos em ações. A Bolsa de Valores brasileira fechou em alta de 1,31%, com o Ibovespa escalando aos 116.037 pontos.


O dólar comercial à vista caiu 2,60%, cotado a R$ 5,1640, depois de ter saltado acima dos R$ 5,40 no início do pregão.


Apesar da valorização da maior parte das ações nesta sessão, principalmente as que pertencem a empresas potencialmente beneficiadas por políticas públicas esperadas para uma gestão petista, houve impressionante queda nos preços dos ativos de companhias controladas pelo governo.


Os papéis preferenciais da Petrobras, que são os mais negociados da companhia na Bolsa, derreteram 8,47%. As ações do Banco do Brasil despencaram 4,64%.


Os juros DI (Depósitos Interbancários), como são chamadas as taxas desses contratos negociados entre bancos e que servem de referência para todo o setor de crédito, também caíram no curto, médio e longo prazos.


Analistas do mercado financeiro pontuaram que o desempenho nos próximos dias dos indicadores financeiros mais importantes para medir a confiança de investidores na economia —Ibovespa, dólar e juros— dependerá das indicações do presidente eleito sobre a condução da economia e, além disso, da reação de Bolsonaro e de seus apoiadores à derrota.


"Existe um clima de incerteza porque o mercado espera a composição da base governista", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.


Entre as principais preocupações de investidores com o governo de esquerda está a possibilidade de aumento dos gastos públicos.


"Há um temor quanto ao futuro da economia do país dado que, obviamente, a [expectativa de] revogação do teto de gastos aumentaria o risco fiscal", comentou Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos.


Lula e Bolsonaro já demonstraram desgosto quanto ao teto de gastos, que limita o crescimento dos gastos públicos, sendo que o atual presidente afrouxou a regra para conseguir ampliar os gastos com benefícios sociais meses antes de iniciar sua campanha para tentar a reeleição.


Indicações de nomes nos quais o mercado confia para a condução da economia seriam o principal antídoto para o nervosismo dos investidores, segundo Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos, repetindo o nome do ex-ministro Henrique Meirelles como um dos preferidos do mercado.


"O mercado abriu nervoso. Se Lula começar a anunciar bons nomes da equipe, isso pode ser positivo para a Bolsa. Caso indique Meirelles, a Bolsa pode ir para cima", comentou.


Cohen também ressaltou que o silêncio do atual presidente sobre a decisão manifestada pela população nas urnas torna o ambiente para os negócios ainda mais tenso. "Ainda não tivemos nenhuma fala oficial de Bolsonaro", disse.


No primeiro discurso como presidente eleito, Lula fortaleceu a perspectiva de um governo de coalizão, com um futuro mais estável para o Brasil, segundo os economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real.


Investidores ampliaram na última sexta-feira (28) as vendas de ações com grande peso na Bolsa de Valores, enquanto reforçaram amplamente compras de papéis baratos ligados ao varejo e educação.


Essa troca de ativos levou o Ibovespa a fechar o dia com ligeira queda de 0,09%, aos 114.539 pontos, acumulando perda semanal de 4,5%, na contramão da recuperação dos principais índices no exterior.


No último dia de negociações antes do segundo turno das eleições presidenciais, o movimento no mercado doméstico foi interpretado por analistas como uma tentativa de investidores de incluírem em suas carteiras ações com maior potencial de valorização em caso de vitória de Lula.


Diante do prejuízo obtido na Bolsa nesta segunda, o Banco do Brasil emitiu uma nota para afirmar que cumprirá as exigências do processo de transição.


"Como integrante da administração pública o BB sempre cumpriu com a legislação que estabelece as regras de transição entre governos. O BB mantém sua postura de prestar neste momento todas as informações que forem solicitadas", informou a nota.


Caminhoneiros protestam pelas ruas do Brasil


Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo caminhoneiros, iniciaram na noite deste domingo (30) bloqueios em estradas pelo país em protesto contra o resultado das eleições, que teve Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vencedor na disputa pelo Planalto.


A PRF (Polícia Rodoviária Federal) registrou nesta segunda (31), até o momento, 140 pontos de bloqueios ou aglomerações em vias de 18 estados e do Distrito Federal.


A corporação não informou quantas ocorrências há em cada um dos estados. Houve ou estão em andamento protestos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, em Minas Gerais, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, na Bahia, no Maranhão, em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, em Goiás, em Rondônia, no Pará, no Acre, no Amazonas, no Tocantins, em Roraima e no Distrito Federal.


Em São Paulo, manifestantes se concentraram na marginal Tietê, considerada a principal via expressa da capital, interligando as regiões oeste, norte, central e leste. No início da noite desta segunda, o protesto ocorria no sentido Ayrton Senna, junto à ponte das bandeiras. As pistas 1, 2 e 3, mais rápidas, foram fechadas pelos manifestantes —apenas a 4 era transitável. A lentidão chegava a 6,3 km.


Com bandeiras do Brasil, eles gritavam "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão".


No Rio, um grupo de manifestantes chegou a interditar parcialmente um dos acessos à ponte Rio-Niterói, que liga a capital fluminense a municípios da região metropolitana do outro lado da Baía de Guanabara. Eles queriam subir na ponte para bloquear o fluxo de veículos, mas recuaram após negociações com agentes.


Nas rodovias, um dos principais pontos de bloqueio foi na Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo. A paralisação, na altura de Barra Mansa (RJ), travou totalmente a via. O congestionamento chegou a pelo menos 18 quilômetros no sentido Rio e 10 quilômetros no sentido São Paulo, segundo a concessionária CCR RioSP.


Parte dos manifestantes colocou bandeiras do Brasil em seus caminhões e carros. Alguns usavam camisetas verde-amarelas, além de adesivos de Bolsonaro.


Os atos também têm relatos de ânimos exaltados e confusão. Segundo a PRF, foi registrado um caso de vandalismo contra o carro de uma mulher. A entidade não deu mais detalhes sobre o episódio.


Ambulâncias e viaturas policiais teriam ficado trancadas. Também há registro de pessoas que passaram mal em ônibus retidos no congestionamento, de acordo com a PRF.


O bloqueio da via levou o polo automotivo da Stellantis em Porto Real, no Rio de Janeiro, a suspender a produção nesta segunda. O principal terminal rodoviário do Rio de Janeiro registrou uma queda de 80% nas viagens para São Paulo por causa das manifestações nas principais rodovias nesta segunda.


Nas rodovias Anhanguera e na Bandeirantes, no interior de São Paulo, cinco bloqueios causaram 37,7 km de congestionamento no início da noite desta segunda. Segundo boletim enviado às 18h50 pela concessionária responsável pelas rodovias, a CCR Autoban, o sistema tem congestionamentos nas regiões de Campinas, Limeira, Jundiaí e Hortolândia.


A PRF, no entanto, não agiu sobre os bloqueios. Em um vídeo ao qual a Folha teve acesso, agentes da PRF dizem que a ordem é só permanecer no local.


"A única coisa que eu tenho a dizer nesse momento é a única ordem que nós temos é estar aqui com vocês, só isso", disse um policial que acompanhava um bloqueio em Palhoça (SC).


Em um outro vídeo, um policial em Rio do Sul (SC) disse que estaria ali para monitorar a manifestação, mas não emitiria nenhuma multa.


"Outro compromisso que eu faço com vocês aqui, nenhum veículo que está aqui na manifestação será alvo de qualquer notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma", disse o policial, sendo aplaudido em seguida.


A PRF disse, em nota, que sempre trabalhou com o compromisso constitucional de garantir a mobilidade eficiente, a preservação da ordem pública, a segurança viária e o combate ao crime organizado nas rodovias federais brasileiras.


A instituição falou ainda que está em todos os locais de bloqueio com efetivo mobilizado e permanece trabalhando para o fluxo livre das rodovias federais.


No domingo (30), a PRF descumpriu ordem do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ao intensificar operações contra o transporte público de eleitores. O diretor-geral da polícia, Silvinei Vasques, foi ao TSE dar explicações sobre o episódio.


Em resposta à mobilização nas estradas, o MPF (Ministério Público Federal) abriu nesta segunda apurações sobre as circunstâncias dos bloqueios em rodovias federais. O órgão cobra providências da PRF, que terá 24 horas para enviar explicações sobre o caso.

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