Bolsonaro não só se entregou ao centrão, como fez o Toma lá dá cá, que prometeu não fazer nos debates políticos em 2018


As trocas promovidas em seis ministérios pelo presidente Jair Bolsonaro pegou parlamentares de surpresa. A maioria delas não era prevista pelo meio político. Pelas redes sociais, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP), disse que as alterações “foram um movimento positivo do presidente Bolsonaro em seu conjunto”. Segundo ele, “a permanência do General Ramos no Palácio reforça a articulação política a cargo da deputada Flávia Arruda”, que assumiu a Secretaria de Governo.


Outros deputados comemoraram a escolha de Flávia Arruda, que é aliada do presidente da Casa, Arthur Lira, e presidiu a Comissão Mista de Orçamento. Porém, muitos parlamentares veem as trocas com reserva. Para o deputado Fábio Trad (PSD), Bolsonaro se entregou ao centrão. “Encerra-se definitivamente o círculo daquele Bolsonaro anti-político, antissistema, anti-fisiologismo. Agora, sem mais nenhum disfarce, ressurge o Bolsonaro presidente do centrão. A voz do sistema que ele fingiu combater, mas o qual sempre dependeu.”

Coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, o deputado Capitão Augusto (PL) disse que a escolha do delegado Anderson Gustavo Torres para o Ministério da Justiça “não foi indicada pela nossa Frente, que sequer foi consultada”, mas desejou sorte ao novo ministro. Já o líder do Novo na Câmara, deputado Vinicius Poit, critica a troca no Ministério da Defesa e vê o governo mais próximo do centrão. “A troca no Ministério da Defesa ela se dá pela falta de apoio das Forças Armadas aos desejos controversos e muitas vezes antidemocráticos do nosso Presidente da República. Agora o presidente sofre uma pressão absurda, se desfaz mais ainda da sua pauta ideológica, que só gerou conflitou, e se rende à tão falada governabilidade — o toma lá dá cá.”


A saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores gerou ampla comemoração no Congresso. No Senado, principalmente, a permanência do ex-chanceler era considerada insustentável. O líder da oposição, senador Randolfe Rodrigues (Rede), criticou a gestão de Araújo. “Custou transformar o país em uma espécie de párea internacional. Ao mesmo tempo também custou, lamentavelmente, a vida de milhares de brasileiros e brasileiros. Isso porque a sua política negacionista impediu que, ainda no ano passado, nós obtivéssemos acesso a vacinas.”


O deputado Daniel Coelho (Cidadania) pede que o substituto seja menos ideológico no Itamaraty. “É importante, agora, que o indicado para o cargo tenha competência técnica e se afaste desse olavismo maluco que fez o Brasil criar atritos desnecessários com países importantes na nossa relação, como China, Estados Unido ou França.” O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB), disse que a troca “é uma oportunidade de mudança na condução de nossa política externa” que, para ele, “deve ter como foco o multilateralismo”.


Para a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu, o novo chanceler deve trabalhar pela chegada de mais vacinas contra a Covid-19. “Juntos, unidos, na fé e nesta irmandade brasileira dedicarmos exclusivamente a vacinar o povo. Não é hora de dispersar, de conversar sobre outro assunto. Fico constrangida quando alguém me procura para tratar outro assunto que não seja vacinação.” Mesmo com a demissão de Ernesto Araújo, os senadores Randolfe Rodrigues e Alessandro Vieira vão protocolar na Câmara dos Deputados um pedido de impeachment do ex-ministro. O objetivo é que ele fique inelegível por oito anos. A peça alega que Araújo cometeu crime de responsabilidade ao não negociar a  compra de vacinas com outros países.

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