João Dória visando as Eleições de 2022, e a polarização de Lula x Bolsonaro, declara: ¨Temos que chegar a um nome de centro até novembro de 2021¨



Um dos postulantes do autodenominado “polo democrático” ao Palácio do Planalto, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defende que o centro encontre até novembro um nome único para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. O tucano reconhece que a discussão abarca um grupo grande e heterogêneo, mas, apesar das dificuldades, acredita em uma solução. Doria tem encontrado resistência a seu nome dentro do próprio PSDB, que na sexta-feira montou uma comissão para organizar as prévias para definir o pré-candidato. Essa relutância ficou mais exposta na semana passada, quando o presidente da legenda, Bruno Araújo, defendeu que o senador Tasso Jereissati (CE) entrasse na disputa. Outra opção posta pela sigla é o nome do governador do RS, Eduardo Leite. Independentemente do escolhido, Doria nega que vá deixar o PSDB.


O espectro considerado nas conversas sobre a construção de uma terceira via para 2022 é uma espécie de “centro expandido” da política. Isso não dificulta a construção de uma candidatura forte para enfrentar Bolsonaro e Lula?

Todo início exige amplitude para que você possa depois chegar ao resultado. Por isso, são sete nomes que compõem esse polo democrático. Os pensamentos não são iguais. Mas nós convergimos em um ponto: a defesa do Brasil. Neste momento, isso basta. É um fator importante de coesão.


Não existe o risco de nomes demais na corrida, o que favorece os extremos?

Tem razão. Mas tudo tem sua hora. Neste momento, é a hora de manter esse campo do polo democrático mais expandido. Ao final do ano, provavelmente em novembro, ele deverá estar ampliado no seu âmbito de referências, mas com a definição de um nome que possa representar o centro no embate eleitoral.


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Os nomes do centro têm diferentes visões sobre a economia, principalmente o ex-ministro Ciro Gomes. Há chance de aliança com o Ciro?

Nesse momento, a gente não pode descartar nada. Temos que ter uma visão um pouco mais sublimada das questões partidárias, eleitorais e até ideológicas. Colocar o Brasil em primeiro lugar e manter esse pensamento até o limite do possível. Qual é esse limite? A meu ver, será novembro, um ano antes do pleito eleitoral. Até lá, temos que dialogar e evoluir até chegarmos a um nome que permita uma conclusão.

Na construção dessa aliança , a ideia também é agregar outros setores, como o empresariado?

Sim, é importante. A sociedade civil como um todo, sejas pelas pessoas, seja pelas instituições. E por aquilo que representam. O mundo intelectual, o mundo da cultura, da economia e da advocacia.


O centro poderia ter mais de um candidato em 2022?

Haverá de ser um. É preciso ter paciência e discernimento. E de novo: focalizar o Brasil, a defesa do país e não a defesa pessoal. Se não conseguirmos chegar até outubro com uma única candidatura e tivermos mais de uma, faz parte do jogo. Temos que avançar sempre olhando o horizonte. Não é partido, não é pessoa e não é ideologia. É o país.

Aliados acreditam que a CoronaVac pode ser seu Plano Real. Mas, em 1994, a nova moeda foi lançada meses antes da eleição. O senhor não teme que o efeito político da vacina seja diluído?

A vacina não é um ativo eleitoral. É ativo de vida, de saúde e da ciência. Tenho trabalhado nesse sentido. Não pelo prisma eleitoral, populista e de dimensão partidária. Ainda vamos enfrentar a pandemia no ano que vem. Aliás, vamos enfrentar, talvez não como pandemia, mas como doença, por muitos anos. A necessidade da vacina será permanente. Pelo menos até que tenhamos medicamentos preventivos.


A vacina se tornará um ativo na medida que seu nome sair como candidato. Não é inevitável essa associação?

Claro. Você precisará ser vacinado. No início da semana quem vem, vou tomar minha vacina, tenho 63 anos. No ano que vem, todos brasileiros terão que ser vacinados. Você não vai se esquecer disso. O dia que os pais tomam a vacina, os filhos falam: “Ufa, meus pais estão vacinados”.


A CPI da Covid pode ter algum resultado concreto?

O Congresso tem que cumprir seu papel, de forma célere e independente, preservando o caráter científico daquilo que representa uma investigação. Por que o Brasil não comprou as vacinas? Por que não comprou a vacina do Butantan em outubro?


O governo paulista espera que a Anvisa adote, diante da nova vacina, a mesma resistência do processo da CoronaVac?

A Anvisa hoje, dado os exemplos de equívocos cometidos no ano passado, deverá ter uma postura técnica e rápida. Não temos dúvida. Não temos vacinas no país.


O senhor se arrepende de ter associado seu nome a Bolsonaro em 2018?

Errei ao votar em Bolsonaro e assumo isso. Como eu, milhões de outros brasileiros também votaram em Bolsonaro, contra o projeto do PT, e cometemos um grave equívoco. Eu assumo tacitamente isso. Mas não vou errar novamente.

O ex-presidente Fernando Henrique disse que se tivermos um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, ele votaria no petista por ser “o menos ruim”. Concorda?

Eu prefiro votar no melhor, não no menos ruim. Prefiro acreditar que há soluções democráticas no Brasil acima de Lula e Bolsonaro.


Não há um exagero na tentativa de comparação entre Lula e Bolsonaro?

Os extremos se tocam, a história mostra isso.


Houve falta de coordenação entre Planalto e governadores na elaboração de medidas para ajudar as empresas a enfrentarem a pandemia?

Faltou coordenação nacional e liderança. O Brasil não tem um líder, tem um psicopata. Se tivesse um líder, ele teria liderado o país pela vida, pela saúde, pela vacina, pela retomada econômica, pelo combate à miséria, à pobreza, ao desemprego e à fome. O Brasil é um oceano de fracassos: na saúde, na ciência, no meio ambiente, na educação, na proteção aos mais pobres. Vai demorar para recuperar o Brasil depois de Bolsonaro.

Existe algo que possa ser feito agora, nacionalmente, para ajudar as empresas?

Milhões de pessoas estão sofrendo, assim como milhares de empresas. Qual é o nível de socorro e coordenação do governo federal? Nenhum. Mesmo para a aprovação de um auxílio emergencial houve uma dificuldade enorme e acabamos com um auxílio que dá para comprar um botijão de gás, dois quilos de arroz, dois quilos de feijão, dois sacos de farinha e mais nada. Que ajuda é essa? É um desastre.


Diante deste cenário, o que o estado pode fazer? Muitos criticaram o ajuste aprovado pelo seu governo que gerou um aumento de imposto.

Se não fizéssemos isso, teríamos colocado São Paulo em falência. Seria um estado dependente do governo federal, como há vários, inclusive o Rio. Por força dessa reforma administrativa — São Paulo foi o único estado que aprovou uma reforma administrativa — hoje temos R$ 21 bilhões em caixa. E vamos religar a economia fortemente já a partir deste ano. Não vamos atrasar salários, nem comprometer serviços de segurança, saúde, nem educação, nem de proteção social. É preciso ter coragem para fazer as coisas. Ser populista é fácil. Ser bom gestor é difícil.


Como avalia movimentações de Geraldo Alckmin para voltar ao governo do estado?

Sempre acreditei e sempre apostei na renovação. Precisamos abrir espaços. O governador Alckmin cumpriu muito bem sua tarefa. É um homem de profunda dignidade e tem todo direito de dialogar. Ele tem espaço no PSDB e poderá, diante de um entendimento com o senador José Serra, disputar o Senado.


Te incomoda a postura do comando do partido de colocar sempre um novo nome como possível candidato à Presidência?

Isso não me causa incômodo, faz parte da história do PSDB. Vivenciei isso em 2015. Disputei as prévias e venci. Em 2018, a mesma coisa. Não tem problema algum. Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Arthur Virgílio, todos merecem todo o respeito. Isto prova que o PSDB é um partido democrático.


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Se o caminho da terceira via não chegar a um nome e o senhor considerar que tem razão para disputar o Planalto, trocaria de partido?

Meu projeto não é político-partidário. Meu projeto é defender meu país e isso está à frente do meu nome. Trocar de partido seria um gesto individualista, seria buscar na individualidade de uma outra opção partidária a defesa do seu interesse. Não há razão para sair do PSDB. Sou filiado ao PSDB desde 2001, filiado por opção, não por eleição.

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