Violência no Rio De Janeiro: Crime organizado, crise econômica, facções, milícia, e a falência de um modelo de Estado



Até que ponto o crime organizado continua ditando as regras do jogo eleitoral no Estado do Rio de Janeiro? Em que medida as milícias e facções criminosas já fazem parte do próprio corpo do governo?




O Rio de Janeiro vive hoje uma grave crise no que diz respeito à violência e segurança. Na iminência de uma mega operação federal que deve envolver cerca de 30 mil homens das três forças (Exército, Marinha e Aeronáutica), o pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), Rafael Moura, comenta que a crise da segurança pública no Rio de Janeiro tem origem na crise econômica, além dos escândalos de corrupção no Estado do Rio de Janeiro. 


"Como toda a crise no Rio de Janeiro, que não é uma crise econômica exclusivamente por causa da corrupção, outros elementos também contribuíram para esta situação drástica tanto do Estado, quanto do município. Houve uma paralisia, havia uma grande deterioração em volta de grandes projetos que estavam aqui, houve o fim daquele ciclo de projetos voltados para os mega eventos. E, com isso, aumentou muito o desemprego e a geração de postos de trabalho, e a situação do Estado se agravou muito, com desemprego, uma queda brutal na arrecadação, tanto pelo vetor dos royalties, quanto pelo do aumento da população ociosa", declarou o pesquisador Rafael Moura. 
De acordo com o especialista, este cenário fez com que minguasse o orçamento para poder manter o policiamento nas ruas, para poder haver uma renovação da frota da PM e realizar as operações de inteligência. 
"Com isso, uma vez que o Estado se encontra cada vez mais omisso na tarefa de garantir a segurança pública, o crime não organizado se proliferou bastante", observou. 
Ao comentar a situação do crime organizado e sua influência no processo eleitoral, Rafael Moura afirmou que no Brasil "é muito fácil de se ter laranjas ou outros quadros, o crime organizado, financiando campanhas de políticos".  
"Evidentemente que o descaso com a ação destes grupos organizados tem a ver com os graus intrínsecos que esses grupos se desenvolveram com a política, por meio do financiamento e por outros vetores também", destacou. 
"Pensando na estrutura do Estado do Rio de Janeiro, é a falência de um modelo econômico do Estado muito dependente da economia do petróleo, Quando você tem a queda dos royalties e do valor do petróleo, somado à paralisia decisória que a Lava Jato gerou. Por exemplo, ela [Lava Jato] acabou contribuindo para a paralisia de uma série de projetos que as empreiteiras estavam envolvidas", analista o pesquisador. 
Rafael Moura também comentou a declaração do presidente brasileiro Michel Temer, que afirmou que quer "fazer um experimento" para fazer "operações no Rio" no âmbito de um plano de segurança federal

"Eu acho que a melhor maneira do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal auxiliarem para mudar este quadro é provendo uma retomada dessa crise econômica, que vai capacitar o Estado por meio de mais recursos pra colocar mais policiamento, conseguir dar uma estrutura policial adequada, e também prover políticas públicas e políticas de inteligência pra combater o crime organizado", disse.
Ele acrescentou que "é notório que a Alerj e a própria Câmara Municipal possuem inúmeros quadros políticos que têm ligação com o tráfico e o crime organizado. "Muito complicado a gente fazer esse enfrentamento quando a gente vê essa relação promíscua no seio político", acrescentou. 
O pesquisador do IESP ainda analisou o resultado do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), afirmando que, no primeiro momento, as UPPs criaram uma sensação que iam dar certo e garantir uma maior segurança pública. No entanto, ele observou que, com a crise econômica e a perda de recursos, ficou cada vez mais difícil sustentar esse projeto.
Além disso, Moura destaca que "o ponto principal a ser criticado na política das UPPs é que ela foi montada inteiramente encadeada pro cinturão dos Jogos Olímpicos". "Não houve uma grande preocupação em levar as UPPs para comunidades e áreas sob a égide da violência que estavam mais afastadas desses lugares", concluiu. 


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