As Semelhanças do Governo Collor e do Governo Dilma

O desfecho da crise política atual é sumamente curioso. E por desfecho não se imagine a manobra do “golpe paraguaio”, de promover o impeachment de Dilma. Só um completo sem noção – como Aécio Neves – para apostar nessa hipótese.
O enigma maior é como nascerá a terceira via do modelo político brasileiro.
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No período democrático, o equilíbrio político se dava na polarização entre PTB e UDN e na mediação do PSD. No período militar, instituiu-se o bipartidarismo da Arena e do MDB.
Na redemocratização, o bipartidarismo foi amenizado pelas tentativas de Tancredo de montar o seu PSD.
O fracasso do governo Sarney, a desmoralização rápida das instituições existentes – todas correndo com voracidade atrás do butim, capitaneadas pelo PMDB - e o avanço econômicos e social do país, romperam com esse modelo.
Da grave crise política da época, emergiram três fenômenos:
  1. Um outsider, Fernando Collor.
  2. Um novo bipartidarismo – representado pela ascensão do PT e pela reorganização de parte do PMDB em torno do PSDB, amenizado por um centrão, que em alguns momentos foi o DEM e em outros o PMDB.
  3. A eclosão das manifestações democráticas de rua e de uma nova militância aparecendo, e o poder corrosivo dos grupos de mídia.
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A crise atual tem semelhanças e diferenças com a crise da Nova República.
As semelhanças estão no vácuo político. De certo modo, marca o fim do modelo político que governou o país nos últimos 20 anos.
Os dois partidos hegemônicos – PT e PSDB – perderam-se em suas próprias contradições. “Mensalão” e “Lava Jato”, e o endosso às medidas ortodoxas de Dilma, feriram a fundo a mística do PT. E o PSDB não consegue articular um discurso coerente sequer: tornou-se um espaço de caciquismo estéril, sem ideias nem propostas.
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Aí começam aflorar as contradições.
A primeira, é que Collor conseguiu cavalgar uma bandeira nova, que se tornaria hegemônica no mundo: o neoliberalismo de Reagan e Thatcher.
Hoje em dia, não se tem bandeiras nem internas nem importadas.
A segunda, é a ausência de figuras referenciais. Em 1989 tinha-se um Collor com seu discurso anti-marajás e Lula emergindo das disputas épicas da Vila Euclides.
Além disso, havia uma base paulista – tanto no PSDB quanto no PT – trazendo a ideia da modernidade e do profissionalismo, de um lado, da participação popular do outro.
Hoje em dia, o epicentro da crise está em São Paulo, onde a política envelheceu muito mais agudamente do que em outros estados. Aqui tornou-se o túmulo da política. O know how paulista só funciona quando se trata de derrubar presidentes eleitos.
O PT ainda possui o trunfo da Fundação Perseu Abramo. Mas o enrijecimento da burocracia partidária dificulta qualquer assimilação de novas ideias.
O Rede foi uma tentativa de reorganização do liberalismo em torno de bandeiras modernas – das quais  o PSDB definitivamente abriu mão.
Mas esbarra na falta de um nome nacional. Marina Silva definitivamente é muito fraca.
O PT ainda tem o nome de Lula. Mas a cada dia que passa, a saga de Lula torna-se um ponto cada vez mais distante para as novas gerações que estão chegando.
Haverá uma solução para o impasse, pois não existe vácuo de poder.
Mas quem disser que sabe qual será, estará mentindo.

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