Wikileaks: Precisamos de maior transparência sobre quem detém o poder

A Sputnik teve a oportunidade de conversar com a jornalista investigativa Kristinn Hrafnsson, porta-voz oficial da WikiLeaks.


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Foto: REUTERS/Petar Kujundzic


Kristinn refletiu sobre o sucesso obtido pela organização e sobre seus planos para o futuro, assim como sobre o destino de Julian Assange e sobre as ameaças à privacidade.


– Pode nomear algumas das publicações mais impactantes da WikiLeaks nos últimos 4 anos?

– Eu penso que a publicação da correspondência diplomática, que iniciámos há quatro anos, foi provavelmente a que teve mais impacto.

A importância das outras revelações é bastante elevada, mesmo os documentos militares pertencentes ao Iraque e ao Afeganistão e outras informações que temos publicado acerca da vigilância realizada através de companhias privadas e sobre ficheiros de espionagem.

Nos últimos tempos, podemos referir a informação sobre as negociações secretas governamentais que estão decorrendo sobre o acordo de Parceria Transpacífica a (TPP).

Mas penso que a correspondência diplomática foi provavelmente a revelação mais importante durante este período.

– Recentemente têm surgido rumores de a WikiLeaks estar planejando um novo projeto de mídia na América Latina. É verdade?

– Recentemente nós temos nos dedicado a prosseguir no nosso caminho e a cooperar com a mídia existente. Quanto a novas iniciativas de mídia, neste momento não posso mencionar nenhuma em particular, mas elas irão certamente continuar.

Claro que vale a pena referir os livros que Julian Assange tem publicado sobre vários assuntos. O último foi claro, sobre o Google e sobre as revelações relativas a essa empresa, e sobre como ela se está tornando em um elemento-chave e no centro de funcionamento do complexo militar de informações. E ainda há as revelações relativas à proteção da privacidade, tal como já foi mencionado, os ficheiros de espionagem.

– A Google trabalha realmente para o Departamento de Estado?

– A Google tem contratos com o governo dos EUA em diversas frentes. O livro se baseia numa discussão tida em 2010 entre Julian Assange e Eric Schmidt, o diretor executivo da Google.

Ele é bastante revelador da forma como a Google vê o mundo e, de acordo com Eric Schmidt, como ela quer se posicionar no centro da recolha e dissimulação da informação, o que está certamente no centro da nossa visão moderna sobre segurança nacional e assuntos de segurança.

– Sendo a Google perigosa, pensa que as redes sociais estão negligenciando a privacidade das pessoas?

– É óbvio que estão, quando elas cooperam, sob coerção ou por sua própria iniciativa, com as agências de espionagem na recolha de informações sobre as pessoas e ao analisá-las na NSA, como o sabemos agora graças a Edward Snowden.

É muito estranho que estejamos vivendo tempos em que a privacidade individual se tornou praticamente inexistente, mas o secretismo dos que estão no poder aumenta de dia após dia. Isso é algo que é totalmente contrário a todos os princípios e valores da sociedade e tem de ser revertido, naturalmente.

Nós precisamos de maior transparência sobre quem detém o poder. Nós precisamos de mais privacidade para quem não tem poder – o indivíduo.

– Quais são as condições para Julian Assange poder abandonar a embaixada?

– Julian tem dito e tem mantido que, se o governo sueco lhe der garantias que ele não será extraditado para os EUA por causa de seu trabalho como publicador e editor do WikiLeaks, ele viajaria de boa vontade para a Suécia. Mas isso tem-lhe sido negado. A Suécia não quer dar esse tipo de garantias.

Claro que ele tem asilo no Equador e deve ser-lhe permitido usar esse direito, o qual é totalmente legítimo e deve ser respeitado de acordo com a convenção de 1951 relativa aos refugiados.

O governo do Reino Unido deveria permitir-lhe a livre passagem para o Equador.

As autoridades suecas deveriam viajar para Londres para terminarem seu interrogatório e prosseguirem com o processo.

O governo dos EUA deveria abandonar a ridícula, continuada e profunda investigação criminal sobre o trabalho da WikiLeaks, a qual, acreditamos, tem apenas um propósito – a acusação contra Julian Assange e todos os que colaboram com essa organização.

– Pensa que existe a possibilidade de Assange se poder realmente render?

– Não, eu não vejo qualquer hipótese para isso acontecer e disso não há qualquer necessidade. Ele tem o direito, como indivíduo, de usar o direito de asilo que lhe foi concedido e ele irá simplesmente continuar a lutar.

Claro que ele terá de gastar parte do tempo com a sua própria luta para sair desta situação absurda que está se tornando quase kafkiana pela sua natureza. Mas à parte disso, seu trabalho na WikiLeaks continua e ele é um homem bastante ocupado e trabalha na liderança dessa organização.

– As pessoas estão autorizadas a visitar Julian Assange na embaixada?

– Ele tem muitos visitantes, ele é um homem livre dentro da embaixada. Há visitas frequentes e há muitas pessoas que vêm em trabalho ou por amizade. Há pessoas entrando e saindo quase todos os dias tanto em visitas sociais, como de trabalho.

– Poderia apresentar um breve resumo sobre a situação em torno de Julian Assange?

– Isto já ultrapassou de longe tudo o que não constitui uma total violação dos direitos humanos individuais. Ele é uma pessoa que praticamente foi encerrada num limbo e sem ter qualquer possibilidade de sair de uma situação que envolve vários países.

Nenhum país irá dar qualquer passo para obter um processo importante – o que por si só representa uma violação grosseira dos direitos humanos.

As oportunidades estão lá, os países e os governos estão simplesmente passando a responsabilidade ou recusando agir, o que é uma situação completamente inaceitável à qual terá de, certamente, pôr fim o mais breve possível. Isto já foi longe demais.

FONTE:http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_12_0...oder-8949/

ISAÍAS 6:8

"Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim."


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