Em conversa com Volodymir Zelensky, Papa Leão XIV oferece Vaticano como sede para diálogo entre Rússia e Ucrânia; Putin ainda não se manifestou


Em meio à intensificação dos ataques russos à Ucrânia, o Papa Leão XIV recebeu nesta quarta-feira o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na residência papal de verão em Castel Gandolfo, ao sul de Roma. Durante o encontro, o Pontífice sugeriu que o Vaticano sirva como sede para as negociações de paz entre Kiev e Moscou, e Zelensky agradeceu os esforços da Santa Sé para ajudar a devolver crianças ucranianas levadas pela Rússia. O mandatário está na capital italiana para participar da quarta edição da Ukraine Recovery Conference, evento internacional sobre a reconstrução do país devastado pela guerra.


Em comunicado divulgado após a reunião, o Vaticano afirmou que os dois líderes discutiram o conflito em andamento e a “urgente necessidade de uma paz justa e duradoura”. Segundo o texto, Leão XIV expressou “profunda tristeza pelas vítimas” e “renovou suas orações e solidariedade ao povo ucraniano, incentivando todos os esforços voltados à libertação de prisioneiros e à busca por soluções compartilhadas”. O Santo Padre também “reiterou a disposição de acolher representantes da Rússia e da Ucrânia no Vaticano para negociações”, acrescentou a nota.


Os Estados Unidos já haviam sinalizado em maio que o Vaticano poderia ser uma possível sede para as conversas de paz entre Ucrânia e Rússia, mas Moscou não aceitou a proposta. Em declarações passadas, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, sugeriu que o Vaticano não seria um espaço adequado para negociações entre dois países cristãos ortodoxos. Desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, as relações entre a Santa Sé e o Patriarca Ortodoxo Russo Kirill, um forte apoiador da campanha militar, se deterioraram.


Falando a jornalistas ao deixar a residência papal, Zelensky disse que agradeceu ao Pontífice pelos esforços da Santa Sé para ajudar na reunificação de crianças levadas por Moscou após o início da guerra na Ucrânia. Ele pediu apoio contínuo e orações “para recuperar nossas crianças roubadas pela Rússia durante esta guerra”.


O Papa Francisco havia nomeado o cardeal italiano Matteo Zuppi como enviado para tentar facilitar tanto o retorno das crianças quanto a busca por “caminhos de paz” entre os dois lados. Após um início intenso de diplomacia com visitas a Kiev, Moscou, Washington e Pequim, os esforços de Zuppi parecem ter perdido força, ao menos publicamente. O Vaticano não divulgou detalhes sobre seus esforços para ajudar no retorno das crianças ucranianas nem quantas foram de fato devolvidas.


Enquanto isso, o governo russo tem sido alvo de condenação internacional pelas deportações ilegais de famílias ucranianas, incluindo crianças, para o território russo, após a ordem do presidente Vladimir Putin para o início da guerra, em fevereiro de 2022. Especialistas apoiados pelas Nações Unidas estimam que cerca de 20 mil crianças ucranianas foram deportadas ou transferidas à força das áreas ocupadas da Ucrânia para a Rússia, embora o número exato seja difícil de determinar.


É a segunda vez que o Papa se reúne com Zelensky desde que assumiu o pontificado, em maio, tornando-se o primeiro Norte-americano a liderar a Igreja Católica. O encontro ocorreu um dia depois de a Rússia lançar seu maior ataque com drones e mísseis desde o início da guerra — uma ofensiva que coincide com o anúncio do presidente Norte-americano, Donald Trump, de que aumentará o envio de armamentos a Kiev.


Leão XIV tem se posicionado de forma firme em apoio à Ucrânia e já classificou a guerra como “sem sentido”. Em junho, encontrou-se com bispos e peregrinos da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Ele ficou tão comovido com a versão ucraniana do hino “Pai Nosso”, interpretada pelo grupo, que pediu um bis quando os recebeu pela segunda vez, na semana passada. Na ocasião, o Pontífice disse rezar para que “a paz possa retornar o mais rápido possível” ao território ucraniano.


— Não é fácil encontrar palavras de consolo para as famílias que perderam entes queridos nesta guerra sem sentido — disse o Papa aos bispos durante a visita. — Imagino que para vocês também não seja fácil, que lidam diariamente com pessoas feridas no corpo e na alma.


Zelensky está em Roma para participar da conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, que ocorrerá na quinta e sexta-feira. O evento reunirá cerca de 2 mil empresas e representantes de 40 organizações internacionais, além de líderes como o chanceler alemão, Friedrich Merz. Os Estados Unidos serão representados por Keith Kellogg, enviado especial de Trump para Ucrânia e Rússia.


Castel Gandolfo, onde ocorreu a reunião com Leão XIV, servirá como sede papal até o dia 20 de julho. A residência, localizada às margens de um lago ao sul da capital italiana, tem sido o local escolhido pelo novo Pontífice para encontros diplomáticos fora do Vaticano. Além do Papa, o presidente ucraniano também se encontrou com o presidente italiano, Sergio Mattarella. (Com informações AFP)

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