A briga entre Elon Musk x Donald Trump evidenciam o quanto o dono da Tesla está com sede de aplicar as ideias de seu Avô tecnocrata, Joshua Haldeman, para os EUA e mundo
Elon Musk e Donald Trump romperam a relação. A tensão entre os dois bilionários vem crescendo desde a saída de Musk do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Se inicialmente o CEO da Tesla era considerado um dos principais aliados do presidente dos Estados Unidos, agora os ânimos entre ambos estão bastante exaltados.
Isso ficou evidente na quinta-feira (5/6), quando Musk criticou duramente o projeto orçamentário do governo — uma grande aposta de Trump, chamada de One Big Beautiful Bill Act “(Grande e belo projeto de lei, em português)”. O projeto deve aumentar o déficit público em trilhões de dólares, algo que o CEO da Tesla tentou combater com o DOGE.
Ao longo do dia, a troca de farpas entre os ex-amigos foi crescendo em publicações nas redes X e Truth Social. O tom mais elevado da discussão veio com a declaração de Musk sobre a eleição do republicano. Para o dono da Tesla, Trump não teria sido eleito sem sua ajuda. Como se não bastasse, ainda sugeriu apoio a um eventual impeachment. Em resposta, o presidente dos EUA ameaçou “encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon”, o que colocaria em risco os bilhões de dólares em contratos federais da SpaceX para foguetes e satélites. Aliados de Trump, como Steve Bannon — um crítico vocal de Musk — disseram ao “New York Times” que o presidente deveria abrir investigações sobre Musk, nascido na África do Sul, e até deportá-lo.
Quinta-feira (5)
– 11h20:
Musk, em seu ataque mais direto a Trump até então, repostou uma mensagem antiga do ex-presidente de 2013, na qual Trump dizia estar em descrença e “envergonhado” com os republicanos por aumentarem o teto da dívida. Musk legendou: “palavras sábias”, em resposta à defesa recente de Trump pela eliminação completa do teto da dívida como parte de seu projeto de lei — que prevê elevar o limite antes de seu vencimento previsto para agosto.
– 12h:
Trump, em sua primeira declaração sobre as críticas de Musk ao projeto de lei, durante uma coletiva no Salão Oval, sugeriu que o CEO da Tesla se opõe ao “ grande e belo plano” — tema de reclamações constantes de Musk durante a semana — porque estaria “chateado” com a remoção do incentivo ao carro elétrico. Ele disse não ter certeza se continuará amigo de Musk e alegou que o bilionário “conhecia os detalhes do projeto”.
Trump também sugeriu que Musk sofre daquilo que chama de “síndrome de aversão a Trump”, termo usado para se referir a pessoas que se voltam contra ele depois de deixarem seu círculo.
– 12h25:
O CEO da Tesla acusou Trump de mentir ao dizer que ele havia aprovado o projeto de lei mesmo com a remoção do crédito fiscal para veículos elétricos. “Falso, esse projeto nunca me foi mostrado nem uma vez sequer e foi aprovado no meio da madrugada tão rápido que quase ninguém no Congresso conseguiu sequer lê-lo!”, escreveu.
– 12h46:
Musk declara que “sem ele”, Trump teria perdido a eleição, os democratas controlariam a Câmara e os republicanos teriam uma maioria mais apertada no Senado. Ele citou ter doado mais de US$ 250 milhões (R$ 1,39 bilhão) para a campanha de Trump e acusou o ex-presidente de “tamanha ingratidão”.
– 14h37:
“A forma mais fácil de economizar dinheiro no nosso orçamento — bilhões e bilhões de dólares — é acabar com os subsídios e contratos do governo com Elon”, escreveu Trump. “Sempre me surpreendeu que Biden não tenha feito isso!”
– 14h48:
Em resposta à alegação de Trump de que pediu para Musk sair da Casa Branca por estar “ficando insuportável” e que retirou seu subsídio para veículos elétricos, Musk disse que isso era “uma mentira tão óbvia” e “tão triste”. Trump havia sugerido que a remoção do incentivo fez Musk “PIRAR!”
– 15h10:
Musk alegou no X, sem apresentar provas, que o motivo pelo qual a Casa Branca ainda não divulgou os “arquivos Epstein” completos — referentes à investigação do FBI sobre Jeffrey Epstein — seria porque Trump está implicado neles.
– 16h09:
Musk declarou que desativaria a espaçonave Dragon da SpaceX, usada pela NASA para transportar astronautas até a Estação Espacial Internacional.
– 16h11:
Musk apoiou a sugestão de um usuário que pediu o impeachment de Trump. Ele respondeu “Sim” a uma postagem que dizia: “Presidente vs. Elon. Quem vence? Meu dinheiro está no Elon… Trump deveria passar por um impeachment e JD Vance deveria substituí-lo.”
– 16h26:
Musk, que anteriormente discordava das políticas tarifárias controversas de Trump, mas vinha evitando críticas públicas mais duras nos últimos meses, afirma que elas provocarão uma recessão na segunda metade do ano.
Sexta feira (6)
– 0h30:
Musk parece recuar na ameaça de desativar a espaçonave Dragon da SpaceX após um seguidor pedir para que ele não fizesse isso. O bilionário respondeu: “Bom conselho. Ok, não vamos desativar a Dragon.”
– 1h:
Musk sinaliza estar disposto a reduzir o tom da briga com Trump, após o bilionário de fundos hedge Bill Ackman — aliado de Musk e apoiador de Trump — postar que ambos “deveriam fazer as pazes pelo bem do nosso grande país… Somos muito mais fortes juntos do que separados.” Musk respondeu: “Você não está errado.” Trump ainda não comentou sobre a sinalização de trégua, mas, segundo o “Politico”, funcionários da Casa Branca estariam atuando nos bastidores para “convencer o presidente a moderar as críticas públicas a Musk e evitar uma escalada”. Uma ligação com o CEO da Tesla foi agendada para esta sexta, com o intuito de “negociar a paz”.
– 4h:
Apesar dos sinais de apaziguamento, Musk continuou atacando aliados do ex-presidente, como Steve Bannon, criticando o projeto de lei de gastos defendido por Trump. O bilionário também repostou uma publicação de um seguidor dizendo que “os republicanos provavelmente perderão a Câmara em 2026”.
– 7h:
As ações da Tesla, que haviam despencado 14% na quinta, em meio ao confronto, subiram cerca de 4,4% no pré-mercado, depois que Musk sinalizou estar aberto a uma trégua com Trump.
– 8h17:
Trump afirma em entrevista à ABC News, que “não está particularmente interessado” em conversar com Musk no momento, alegando que ele “perdeu a cabeça”.
Recordar é viver
No ano passado, Musk disse repetidamente que é a favor do fim do crédito fiscal para veículos elétricos — declarações que enfraquecem o argumento de Trump de que ele só se opõe ao projeto de lei porque o incentivo será eliminado. “Acho que deveríamos acabar com todos os subsídios”, afirmou o CEO da Tesla em dezembro, ao ser questionado por um repórter no Capitólio se apoiava o fim do crédito fiscal para veículos elétricos, segundo o “Politico”.
A versão do projeto aprovada pela Câmara prevê a eliminação gradual do crédito de US$ 7,5 mil (R$ 43.,5 mil) para alguns compradores de veículos elétricos até 2026.
Um projeto e muitas polêmicas
Um relatório do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), órgão apartidário dos Estados Unidos, estimou que o projeto de lei promovido por Donald Trump adicionaria US$ 2,4 trilhões (R$ 13,8 trilhões) à dívida federal ao longo da próxima década. Segundo a análise, o custo total da proposta chegaria a US$ 4,2 trilhões (R$ 24,1 trilhões), majoritariamente devido a cortes de impostos, enquanto apenas US$ 1,8 trilhão (R$ 10,3 trilhões) seria economizado.
Na quinta-feira, Trump comentou sua decepção com Elon Musk durante um encontro na Casa Branca com o chanceler alemão Friedrich Merz. “Estou muito desapontado com Elon. Eu ajudei muito o Elon”, disse o ex-presidente, demonstrando frustração, após uma série de ataques públicos feitos pelo bilionário contra seu projeto de lei.
Musk, que deixou seu cargo na Casa Branca na sexta-feira passada (30), passou a semana disparando críticas contra a proposta legislativa, sobretudo por conta do impacto orçamentário. “Sinto muito, mas simplesmente não aguento mais”, escreveu ele na terça-feira em seu primeiro post sobre o tema na plataforma X, chamando a medida de “uma aberração repugnante, escandalosa e cheia de privilégios”. Em outro ataque, Musk repostou uma mensagem de Trump de 2013, na qual o então empresário criticava a elevação do teto da dívida, usando a frase “palavras sábias” como legenda.
Enquanto criticava o “lindo e belo plano de Trump” ao longo desta semana, o CEO da Tesla ameaçou os republicanos que votaram a favor e convocou os eleitores a “demitir todos os políticos que traíram o povo americano” nas eleições de novembro de 2026. Ele também pediu abertamente que os congressistas “matassem o projeto”. Até que Trump se manifestasse na quinta, o principal defensor do texto vinha sendo o presidente da Câmara, Mike Johnson (republicano da Louisiana), que afirmou na quarta-feira (4) que o ex-presidente “não está satisfeito com o fato de Elon ter mudado de posição”.
O projeto de lei, aprovado pela Câmara com votos apenas dos republicanos, após revisões de última hora para acalmar dissidentes, agora está em negociação no Senado. Os líderes do partido esperam que o texto seja sancionado por Trump até 4 de julho, mas a resistência dentro da bancada republicana no Senado — e declarações de arrependimento de alguns deputados que disseram não conhecer certos trechos da proposta — podem atrasar a tramitação. A legislação visa cumprir promessas de campanha de Trump, como prorrogar os cortes de impostos de 2017, eliminar tributos sobre gorjetas e horas extras, além de ampliar a segurança nas fronteiras, tudo isso financiado, em parte, por cortes no Medicaid.
Consequências
Enquanto Musk e Trump trocavam farpas, as ações da Tesla despencaram, fechando a US$ 284,70 (R$ 1.641), apagando os ganhos obtidos durante todo o mês de maio. Foi o 11º pior dia de negociação da empresa desde que abriu capital, em 2010. Musk, que detém cerca de 12% da Tesla (excluindo opções), viu seu patrimônio encolher em US$ 27 bilhões (R$ 155 bilhões), caindo para US$ 388 bilhões (R$ 2,2 trilhões) — embora ele ainda continue sendo a pessoa mais rica do mundo.
As ações do Trump Media & Technology Group também caíram 8%, encerrando a US$ 20,12 (R$ 116), o menor valor desde 16 de abril. O mercado de criptomoedas não ficou imune ao embate: o ethereum caiu 7%, o Solana recuou 6% e o dogecoin — apoiado por Musk — caiu 9%. O bitcoin também sofreu perdas, embora mais modestas, com uma queda de 3% até a noite de quinta-feira.
Os Estados Unidos presenciam um embate inédito entre dois dos nomes mais influentes do país: O bilionário e atual presidente da Tesla, Elon Musk, e agora novamente presidente eleito dos EUA Donald Trump. A briga, que começou com divergências de bastidores, tomou proporções públicas após Musk não aceitar o déficit orçamentário do BIG BILL BEAUTIFUL; a sua intenção de fundar um novo partido político: possivelmente o Partido Tecnocrata Americano (PTA), com o objetivo declarado de "romper com o duopólio estagnado entre democratas e republicanos". Ficou em evidência quando ele postou este tweet:
Is it time to create a new political party in America that actually represents the 80% in the middle?
— Elon Musk (@elonmusk) June 5, 2025
Tradução do tweet: Está na hora de criar um novo partido político nos Estados Unidos que realmente represente os 80% do meio?
A enquete já finalizada contou com 80,4% dos votos a favor de um novo partido, e 19,6% que votaram contra.
O confronto acontece em meio a um cenário político e econômico delicado, com os Estados Unidos tentando equilibrar a inovação tecnológica, estabilidade econômica e a governança tradicional. Musk, eleito por Trump como consultor independente, vem promovendo uma agenda agressiva de reformas digitais, automação governamental e descentralização institucional, defendendo que “a política do século XXI precisa ser conduzida por quem entende do futuro, e não apenas do passado”.
O Terceiro Partido, será Tecnocrata? Um Novo Paradigma
Segundo Musk, o novo partido terá como pilares a ciência, a engenharia e a meritocracia algorítmica com uso de um sistema apolítico longe da atual democracia. O bilionário afirma que sua proposta é criar uma forma de governo mais racional e menos partidária, baseada em dados, inteligência artificial e decisões otimizadas tecnologicamente.
Ideias defendidas pelo Avô Joshua Haldeman, que era um tecnocrata ferrenho.
Tecnocracia como Herança de Família
O projeto tecnocrata de Elon Musk não é apenas fruto de sua trajetória como inovador na indústria aeroespacial e automotiva. É também, segundo o próprio presidente, uma espécie de missão herdada de seu avô materno, Joshua Haldeman, um aventureiro, quiroprático e pensador político Canadense-Sul-Africano que, nos anos 1930 e 1940, se envolveu com movimentos tecnocratas na América do Norte.
Haldeman acreditava que a sociedade poderia ser mais eficiente e justa se fosse organizada e administrada por especialistas técnicos e cientistas, ao invés de políticos de carreira. Essas ideias ganharam força durante a Grande Depressão de 1929, mas nunca foram implementadas em larga escala. Para Musk, no entanto, o momento finalmente chegou.
“Meu avô enxergava um mundo onde a política não seria manipulada por interesses partidários, mas orientada por fatos e engenharia. Agora temos as ferramentas tecnológicas para tornar isso realidade”, declarou Musk certa vez para funcionários na Tesla.
Com isso, o ¨Partido Tecnocrata Americano¨ que ainda não existe, pode ser criado futuramente, para implementar um sistema onde decisões governamentais sejam guiadas por inteligência artificial, dados científicos e eficiência operacional — uma abordagem que, embora visionária, levanta sérias preocupações éticas e democráticas entre analistas.
Trump Manobra em Silêncio: Economia em Jogo
Enquanto isso, Donald Trump, que retornou com força à cena política e foi reeleito por ampla margem em novembro de 2024, tem adotado uma postura mais estratégica do que confrontacional — pelo menos por enquanto. Assessores próximos indicam que Trump está "de olho em 2028" e não deseja desestabilizar o governo de Musk imediatamente para evitar impactos negativos na economia e no mercado financeiro, que seguem sensíveis a qualquer sinal de instabilidade política.
Trump tem mantido sua base mobilizada, fazendo críticas pontuais à “utopia digital de Musk” e insinuando que o projeto tecnocrata é “antiamericano por essência”, mas evita ataques frontais. Em eventos fechados, o ex-presidente tem reforçado a ideia de que "os Estados Unidos precisam de liderança humana, não de algoritmos".
Impactos e Desdobramentos
A tensão entre Musk e Trump é um divisor de águas na política moderna americana. Pela primeira vez, dois bilionários com enorme influência popular e ideológica se enfrentam não apenas como indivíduos, mas como representantes de dois modelos de governo radicalmente distintos: um baseado na tradição e no populismo nacionalista; o outro na tecnologia, racionalidade e futurismo.
Ainda é cedo para prever se o Partido Tecnocrata de Musk ganhará tração popular ou se será apenas mais uma tentativa disruptiva em um sistema ainda muito preso às suas raízes bipartidárias. Mas uma coisa é certa: os Estados Unidos estão diante de um embate que poderá redefinir não apenas o futuro da política nacional, mas o próprio conceito de democracia no século XXI.